Vídeo A Voz da Arte – IBM Watson, Canal Miligrama. mg, publicado no YouTube em 4 de abril de 2017.
Link: https://youtu.be/1rOAgvCnZpw?si=k7I3ZLRmsiznJ4Sq
Em 2017, a IBM comemorou 100 anos no Brasil. Na ocasião, a empresa realizou uma parceria com a Pinacoteca de São Paulo para concretizar o projeto A Voz da Arte.
Consistiu em uma experiência que desenvolveu um aplicativo (assistente cognitivo) capaz de “conversar” com o público do museu sobre sete obras do acervo. Para tanto, recorreu à sua tecnologia Watson, um sistema cognitivo que utiliza a inteligência artificial para aprender conteúdos por inúmeras fontes: vídeos, fotos, entrevistas, áudios, etc.
Durante seis meses, o Watson foi alimentado com informações sobre história da arte brasileira, as pinturas e seus contextos. Ao chegar no museu, o visitante recebia um smartphone com o aplicativo e um fone de ouvido. Durante o percurso, sensores indicavam a proximidade de uma das obras participantes.
A partir daí, por meio de áudio, o visitante poderia fazer as perguntas que quisesse, como quisesse, obtendo as respostas no fone. Trata-se, portanto, de uma experiência individualizada e interativa com aquele acervo.
Pessoas com deficiência auditiva, que possuíssem literacia em português, poderiam utilizar o recurso por textos escritos, via chat. Porém, a maioria dos surdos no Brasil não compreende ou escreve bem em português, comunicando-se basicamente por Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Aliás, segundo dados da Federação Mundial dos Surdos (WFD), cerca de 80% das pessoas surdas no mundo têm educação insuficiente e/ou problemas com escrita.1
Neste sentido, acredito que a solução se adeque mais ao público com deficiência visual. Funciona, nestes casos, como uma tecnologia assistiva interativa.
Abaixo, nas notas, disponibilizo um vídeo que destrincha melhor o projeto e a experiência no museu, gravado por um ex-funcionário da IBM chamado Mauro Seguro. Temos, ainda, no link acima, o vídeo oficial de divulgação do projeto.
Apesar de ser um vídeo emocionante, caberia tecer algumas considerações quanto ao recorte escolhido para justificar a ausência dos brasileiros nos museus. Sabemos que o problema é bem mais complexo do que simplesmente a necessidade de interagir com as obras ou questões de gosto. Essa ausência é sintoma de aspectos mais graves, como a desigualdade social ou as deficiências da educação no país.
Não penso que a intenção do vídeo tenha sido simplificar o problema. Porém, um recorte é sempre um recorte e nos revela um determinado olhar, uma decisão sobre o que priorizar no discurso. Acredito que existiriam outras abordagens com maior potencial de contribuição para justificar a importância desta experiência. Inclusive sua capacidade de inclusão e de mediação educativa através do entretenimento digital.
Contudo, isso não tira o mérito do projeto de forma alguma. E nem do vídeo, que ficou lindo, na minha opinião. A Voz da Arte me pareceu uma proposta bem inovadora e interessante, com grande potencial de se tornar algo corriqueiro nos museus do futuro.
As implicações que isto nos trará em termos de desemprego causado pela automação, redução das relações sociais e da mediação humana nos museus, bem como as questões advindas dos vieses provocados pelos algoritmos, ficam para discutirmos em outra ocasião.
Notas
1 – Improving multimodal web accessibility for deaf people: sign language interpreter module, por Matjaž Debevc & Primož Kosec & Andreas Holzinger, DOI 10.1007/s11042-010-0529-8
Vídeo Inteligência Artificial no Museu, Canal Mauro Segura, publicado no YouTube em 4 de Abril de 2017.
Vídeo A Voz da Arte – IBM Watson, Canal Miligrama. mg, publicado no YouTube em 4 de Abril de 2017.
Clique aqui para ler este post sobre A Voz da Arte em inglês e assistir ao vídeo oficial traduzido.
Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga e todos os que me deram seu precioso feedback.
Imagem: Print do vídeo A Voz da Arte – IBM Watson.