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Outro dia estava na fila do caixa, quando um moço visivelmente pobre tentava comprar um miojo. Faltava-lhe algumas moedas para completar o valor e o cliente do caixa ao lado lhe deu o dinheiro.
Quando o moço estava quase terminando de pagar sua refeição, os seguranças da loja o puxaram com força, levantando sua camisa. Foi quando todos descobrimos que ele escondia ali alguns pacotes de comida furtados.
Os seguranças tomaram-lhe todos os itens, inclusive o miojo. E o moço foi, então, jogado para fora do estabelecimento de forma truculenta, mas não chamaram a polícia. Ele partiu rua afora, levando consigo a humilhação e o estômago vazio.
A cena devastou meu coração. E este moço não está só em seu desespero.
Segundo pesquisa da Rede Penssan sobre a fome no Brasil, com dados de dezembro de 2020:
- 55% dos lares brasileiros vivia em estado de insegurança alimentar, ou seja, seus moradores não tinham certeza se conseguiriam comer naquele dia.
- 20% da população (43 milhões de pessoas) não possuía alimentos o suficiente.
- 9% passava fome no dia a dia, ou seja, 19 milhões de brasileiros.
Essa situação pode ter piorado em 2021.
A miséria extrema nos desumaniza, pois, pessoas famintas pensam e agem focando somente na resolução de um único problema: a sobrevivência. E isso compromete a capacidade de planejamento de longo prazo e, por consequência, sequestra o futuro dessa pessoa, já que a mente só consegue raciocinar conforme a fome presente.
Como uma sociedade, que ainda por cima se afirma majoritariamente cristã, pode normalizar tamanha desumanidade?
Notas
Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga, Paulo Rocha, Heloísa Helena Rocha e todos os que me deram seu precioso feedback, obrigada pelos comentários e sugestões.