15 estratégias perigosas que narcisistas e pessoas tóxicas utilizam para destruir a sua carreira profissional ou acadêmica

Categorias: Narcisismo
Tags: abuso narcisístico, carreira acadêmica, narcisismo, pessoas tóxicas, produtivismo
Primeira postagem: 13 setembro, 2024

O primeiro passo para se resolver um problema é diagnosticar corretamente este problema, sabendo reconhecê-lo.

Neste post, então, vamos identificar algumas das principais estratégias com as quais pessoas tóxicas, narcisistas ou psicopatas tentam destruir a nossa carreira profissional ou acadêmica.

1 – Campanha Difamatória: Falar mal dos outros como “esporte” predileto

A arma número 1 dos narcisistas é a palavra. É fácil, de graça e eles estão treinados para manipular a conversa a seu favor desde muito cedo.

Neste contexto, a difamação é a tática mais comum para destruir alguém no ambiente de trabalho. E com frequência funciona.

Narcisistas fazem campanha difamatória contra suas vítimas desde o início da amizade ou relacionamento, objetivando isolá-las do seu círculo de suporte. Além disto, num futuro rompimento, as pessoas já terão um lado definido. Narcisistas alimentam raiva e inveja das suas vítimas secretamente.

E, assim, movidos por estes sentimentos negativos, narcisistas podem te difamar de inúmeras maneiras:

  • Distorcendo o que você diz.
  • Tirando suas falas de contexto.
  • Usando o poder de argumentação para desqualificar ou piorar suas falas.
  • Pegando suas brincadeiras, sarcasmos e ironias e passando adiante como se fossem falas sérias.
  • Revelando opiniões e segredos que você confidenciou e que, portanto, deveriam ter permanecido no contexto adequado. Ou seja, no contexto privado.
  • Misturando mentiras com verdades, para parecer que tudo que eles dizem a seu respeito é verídico.
  • Inventando completos absurdos totalmente fictícios a seu respeito.

Narcisistas precisam ter o controle. Sempre. Se a vítima encerrou o relacionamento ou escapou de um ambiente tóxico, o narcisista perdeu o controle sobre ela.

Se não pode mais controlar a vítima diretamente, o narcisista se esforçará ao máximo para controlar como as outras pessoas a enxergam. Tentará destruir, portanto, seus outros relacionamentos. Isso, na cabeça da pessoa narcisista, é manter a posição de controle. E, claro, é também uma forma de vingança.

2 – Plagiar, explorar ou não dar o devido crédito aos demais

Não dar o crédito de maneira apropriada aos demais, apoderar-se do trabalho ou das ideias do outro são comportamentos tóxicos extremamente comuns, principalmente no meio profissional. Na universidade, chamamos isto de extrativismo intelectual.

Às vezes o narcisista acrescenta alguma mudança aqui ou ali na ideia inicial do outro. E com isso já acha que merece o crédito por aquela ideia.

Também é comum que o narcisista encare seus subordinados, mentorados e orientandos como uma “extensão” dele, como “devedores” intelectuais.

Portanto, narcisistas entendem que a produção das pessoas sob seu comando ou influência lhe pertence. Ele cultiva a fantasia de que aquelas pessoas só tiveram aquelas ideias ou produções por causa dele de alguma maneira. Assim, a ideia é dele também, por direito!

Por fim, há aqueles que fazem plágio descarado mesmo do trabalho e pensamentos dos outros, ipsis litteris. Esses não são dados ao autoengano: sabem muito bem o que estão fazendo e não estão nem aí. Principalmente os psicopatas ou narcisistas malignos.

Um outro motivo pelos quais narcisistas copiam os comportamentos, gostos, hobbies, ideias etc. de suas vítimas é que eles são pessoas sem identidade própria. Para conquistar os demais, portanto, fingem uma falsa afinidade.

Essa técnica é chamada de espelhamento e flerta diretamente com o plágio, principalmente nos ambientes profissionais.

Através do espelhamento, ao longo da vida, narcisistas constroem sua persona pública a partir de vários “pedaços” que foram coletando das suas vítimas. Portanto, eles são uma “colagem camaleônica” das pessoas que invejam ou com as quais se relacionaram.

Narcisistas com frequência não são o que aparentam ser, não têm o conhecimento e a competência que arvoram ter. Espelham, plagiam e roubam a personalidade alheia sem o menor remorso. Os mais conscientes de seus traços narcisistas ou psicopatas, fazem isso de forma muito venal, até para provocar e irritar a vítima.

E não são apenas as pessoas em posição de poder que se comportam desta maneira. É preciso lembrar que qualquer um em idade adulta pode ser narcisista. Qualquer gênero, orientação sexual, grau de escolaridade, classe social, religião, profissão, nacionalidade, etnia etc. Qualquer pessoa em qualquer situação pode se comportar de maneira tóxica e narcisística.

Por exemplo, muitos estudantes (narcisistas ou não, infelizmente) plagiam livros e publicações acadêmicas, compram trabalhos feitos por outros, colam nas provas, usam inteligência artificial para gerar textos e/ou “encostam” nos colegas de trabalho de grupo de faculdade para se formarem. Portanto, o diploma deles representa muito pouco na prática.

Não obstante, narcisistas se acham superiores do que todos os seu colegas de sala. Acham que sabem mais até mesmo do que os professores e do que as maiores referências no seu campo de atuação.

Não respeitam a universidade, não frequentam as aulas direito e não têm a força de vontade e a humildade necessárias para se adquirir conhecimento e experiência profissional.

Volta e meia viraliza depoimentos de “empreendedores” com nítidos traços narcisísticos, que se orgulham de terem ficado ricos e famosos após abandonarem a faculdade.

Mas quais caminhos precisaram trilhar para obterem sua riqueza? Isso foi feito pagando salários justos ou explorando os demais? Eles usaram as redes sociais e os estratagemas antiéticos de marketing digital para venderem seus produtos e serviços?

O fato é que muitos destes “empreendedores” adorariam ter um diploma de faculdade, mas não conseguiram adquirir a disciplina necessária para apreender conhecimentos complexos. Então, constroem uma narrativa paralela para mascarar esta realidade. Para esconder o fato de que foram incapazes de sentar-se na frente do livro e “meter a cara”.

E, claro, no caso dos narcisistas e psicopatas, eles não conseguiram o diploma ou o conhecimento também porque têm extrema dificuldade com figuras de autoridade. Ficar assistindo um professor liderar uma aula por horas é para eles um sofrimento insustentável. Ver colegas de sala se saindo bem nas notas, conseguindo bolsas de iniciação científica ou estágios legais, então, é um golpe avassalador no ego!

Na cabeça dos narcisistas, eles e elas sempre fariam melhor do que os outros, se estivessem no lugar deles. E o sucesso dos demais é sempre imerecido.

A arrogância e o senso de superioridade são marcas registradas dos narcisistas. Sentir-se no direito de ignorar, explorar, diminuir, espelhar e plagiar concorrentes, também.

3 – Sonegar informações cruciais

Narcisistas sonegam informações essenciais dos outros, tais como prazos, editais, fontes de financiamento, burocracias, modus operandi etc.

As empresas e a academia são cheias de “regras não escritas”. E quem não tem o privilégio de conseguir bons mentores não consegue navegar por elas. Essas regras variam de instituição para instituição, unidade para unidade, área para área, país para país etc.

Portanto, se você entrou num novo emprego ou mudou de setor, vai precisar de novos mentores. E narcisistas adoram deixar os novatos sem informação adequada, para que eles criem dependência por eles. E, claro, não atinjam todo o seu potencial e o sucesso que poderiam.

Narcisistas são competitivos ao extremo. Ocultar informações cruciais dos “concorrentes” é corriqueiro. E eles consideram todo mundo como concorrentes, mesmo quando poderiam ser parceiros e colaboradores.

Penso que o exemplo mais óbvio disto é a própria universidade e o serviço público. A maioria dos professores e dos funcionários públicos são concursados, mas o ambiente continua sendo pouco colaborativo, tóxico e altamente competitivo.

Portanto, as pessoas não estão fazendo isto por questão de sobrevivência, porque precisam ser promovidas ou porque não podem se dar ao luxo de perder o emprego. E sim porque normalizamos culturas narcisísticas e psicopáticas no trabalho.

4 – Desinformar, repassar fake news, mentiras e dados falsos

Nestes casos, o narcisista vai além de omitir: ele ostensivamente instrui a vítima a fazer o oposto do que é necessário para que ela seja bem-sucedida.

Quando a vítima descobre que precisava estar no caminho inverso para alcançar seus objetivos, fica chocada como o narcisista teve a capacidade de mentir para ela tão descaradamente.

Mas é assim que muitos narcisistas agem. Neste “vale tudo”, narcisistas espalham desinformação, porque informação é poder. Conhecimento é poder.

Narcisistas podem até sugerir que a vítima faça algo ilegal, que pode comprometer a carreira dela. Quanto mais “enrolada” ela estiver, melhor para o narcisista, porque ele tem a vítima em suas mãos.

E, também, fica mais difícil para a vítima romper com o ciclo de abuso, principalmente se ela foi cúmplice dele em algo antiético. Ou mesmo se fez isto sozinha, mas induzida equivocadamente por ele.

E a vítima sabe que o narcisista sabe dos seus erros. Portanto, tem medo de chantagens e vinganças caso ela escape.

5 – Dar feedbacks mentirosos: Minando a autoestima e a coragem das vítimas

Poucas coisas podem ser mais danosas do que um falso elogio ou uma crítica improcedente. Narcisistas dão feedback equivocados o tempo todo, de forma consciente ou inconsciente.

Como eles vivem num universo paralelo, que tem pouca correspondência com a realidade, é comum que a visão de mundo e dos fatos do narcisista sejam extremamente distorcidas. Portanto, seus conselhos e opiniões com frequência não correspondem à verdade.

Além disto, narcisistas intencionalmente mentem para suas vítimas. Seja fazendo elogios improcedentes, para manipulá-las. Seja fazendo críticas igualmente inverídicas, com o objetivo de minar a autoestima da vítima.

No meio acadêmico, o professor narcisista pode perceber que seus orientandos não têm as características geralmente exigidas para serem bem-sucedidos na carreira acadêmica, mas o narcisista continua alimentando essa ilusão na cabeça deles por anos. Após o pós-doc, com uma década de qualificação e desempregados, os orientandos percebem finalmente que foram usados e jogados fora como lixo.

Ou o contrário, ao perceber que seu orientando ou tutorado tem grande potencial de superá-lo, o narcisista tenta desencorajá-lo e sabotá-lo com críticas improcedentes.

O mercado de trabalho está saturado de pessoas competentes, capacitadas, bem-formadas etc. Especialmente no nicho empresarial, gerencial, intelectual ou acadêmico. Dois dos maiores diferenciais de sucesso, neste contexto altamente competitivo que vivemos, é autoestima e coragem para assumir riscos responsáveis.

Narcisistas tentam minar ambos – autoestima e coragem da vítima – fazendo-a ter medo de perseguir os seus sonhos e de enfrentar os obstáculos para trabalhar naquilo que ela ama. Ele pode fazer isto hipervalorizando as consequências de falhar ou advertindo-a de que ela não está “pronta” ainda. O que o narcisista não conta para a vítima é que ninguém nunca está pronto: a gente muitas vezes precisa aprender fazendo.

Quando o narcisista não consegue se sentir superior aos outros, porque alguém tem algo que ele não tem ou é algo que ele não é, o narcisista então consegue, em sua imaginação, atingir essa (suposta) “superioridade” criticando, aterrorizando e diminuindo os demais.

6 – Desestabilizar emocionalmente a vítima em momentos importantes de sua vida

Narcisistas são “estraga prazeres”. Eles criam confusão e drama em momentos importantes para a vítima, como aniversários, férias, festas de fim de ano, Natal, formaturas, casamentos, velórios, provas, processos seletivos etc.

Quando sente que não é o centro das atenções, narcisistas dão um jeito de reverter isso de qualquer maneira. Pode ser falando algo absurdo, ameaçando não ir à cerimônia, impedindo-a de ter uma boa noite de sono, provocando uma discussão, vandalizando coisas, minimizando a alegria ou conquista alheia, divergindo do foco principal do evento em seu discurso, dentre outras táticas.

Além disto, narcisistas estragam momentos importantes para sabotar a vítima. É comum elas relatarem que às vésperas de algo muito crucial, no lugar de dar todo suporte emocional, o narcisista fez o contrário: drama, brigas, tratamento de silêncio, sumiço, críticas duras, triangulação etc.

Pode ser antes de uma palestra ou evento importante, uma prova de vestibular ou concurso público, processo seletivo ou entrevista de emprego, reunião crucial para a carreira, lançamento de um projeto ou de uma exposição, para dar alguns exemplos.

Narcisistas se aproveitam dessas datas comemorativas ou ocasiões profissionais para obter suprimento negativo da vítima e, também, para sabotar sua felicidade e o seu sucesso.

7 – Maximizar erros e destacar somente os problemas dos seus concorrentes

Narcisistas crescem desmedidamente os erros, defeitos e problemas dos outros e do trabalho alheio.

Coisas pequenas tomam uma dimensão absurda. Algo que você deixou de incluir num orçamento. Um cliente que não recebeu o telefonema rápido. Ou algum ponto fraco do seu relatório, projeto, pesquisa, artigo, monografia etc.

O resto pode estar tudo fantástico, mas narcisistas darão atenção e destaque às falhas da vítima.

Narcisistas são convincentes e usam a sua autoridade para desmerecer o trabalho dos outros, focando em detalhes insignificantes para desvalorizar o todo.

Nenhum trabalho é perfeito, mas o narcisista faz o da vítima parecer muito pior do que realmente é. E se esforça arduamente para convencer os demais disto. E como age assim de forma constante e sistemática, acaba conseguindo colocar a pulga atrás da orelha de todo mundo.

Ele usa seu poder de influência para favorecer o trabalho dos seus “amigos” e minions, enquanto destrói e desqualifica o trabalho dos seus críticos.

8 – Tráfego de influências: Privilegiar os amigos

Narcisistas se utilizam de seus cargos e contatos para realizar tráfego de influências. O famoso “QI” (Quem Indica). Ou para prejudicar a aprovação da vítima em processos seletivos, concorrências de editais, publicação de artigos, promoções, candidaturas de emprego etc.

No meio acadêmico, narcisistas combinam com os colegas de só convidarem para os principais projetos, trabalhos e eventos as pessoas do seu “grupinho”. Isso também vale para aprovação de bolsas, fomentos e citação em artigos. Assim, a bolha dos poderosos vai ficando cada vez mais fechada e mais forte.

No meio profissional, eles tentam eliminar os concorrentes poderosos ou críticos, substituindo-os por “cordeirinhos obedientes”. O narcisista em posição de poder move as peças deste jogo como se fosse um xadrez, de modo a favorecê-lo.

Assim, pessoas com as mesmas afinidades do narcisista acabam sendo privilegiadas, em detrimento da competência e do currículo: parentes, amigos, vizinhos, torcedores do mesmo time, fiéis da mesma religião, militantes do mesmo partido político, seguidores da mesma linha teórica ou pensamento etc.

Narcisistas têm dois pesos e duas medidas. Aplicam o “rigor da lei” para os inimigos e aliviam para os amigos, mesmo que essa “lei” tenha sido feita por eles mesmos e seja injusta.

Aliás, narcisistas são especialistas em fazer regras no trabalho que favorecem a si próprios e aos seus aliados.

9 – Manipular as pessoas para fazerem o “serviço sujo” em seu lugar

No Tesauro Narc, macacos voadores são os seguidores do narcisista, que fazem para ele o “serviço sujo”. São seus minions. O termo remete aos macacos voadores do Mágico de Oz.

Já os enablers (facilitadores) agem da mesma maneira, mas geralmente sem perceber que estão fazendo algo de errado. São também vítimas que acreditam no narcisista e o defendem arduamente, colocando-se injustamente contra outras vítimas.

Narcisistas usam o seu exército de macacos voadores e de enablers para prejudicarem as pessoas no lugar dele, sendo que quem está por trás do ataque é o narcisista.

Por exemplo, um gerente de vendas pode passar os piores clientes para um vendedor, os mais problemáticos, impedindo-o de atingir a sua meta.

Ou um editor de periódico pode passar o artigo da vítima para os revisores mais enrolados, mais complicados, que fazem críticas não construtivas ou que dão “bomba” nos artigos de seus concorrentes.

O narcisista pode, direta ou indiretamente, sugerir formas de como os macacos voadores podem prejudicar e atacar a vítima. E eles o farão. Seja porque também são narcisistas e têm seus interesses pessoais. Seja porque foram enganados com mentiras.

E assim, colegas de trabalho podem isolar ou prejudicar um funcionário ou outro gerente, porque o chefe fez campanha difamatória contra ele nos bastidores. E o funcionário perseguido, estressado, pode de fato começar a agir de maneira tóxica.

É o que chamamos de abuso reativo: quando a vítima reage mal a um contexto abusivo. E, então, o narcisista usa essa reação da vítima para corroborar com sua campanha difamatória e colocar todos contra ela.

Um exemplo disto é um funcionário que fala com raiva ou começa a chorar no meio de uma reunião. Parece que, de fato, o funcionário é que é o problema.

Mas o que ninguém sabe é que aquilo foi a gota d’água para todo o abuso que está acontecendo nos bastidores. E ali na reunião, o narcisista soltou alguma provocação velada para gerar este tipo de reação na vítima. E, assim, fazê-la perder o controle na frente dos outros.

No meio acadêmico, estudantes podem hostilizar e até agredir verbal ou fisicamente um professor, porque foram insulados nos bastidores por outros docentes malignos e invejosos. O professor, então, já começa o semestre com a turma tendo enorme resistência à disciplina e a ele.

Inveja, competitividade, mentira e conspiração. Manipular os outros a seu favor é uma das estratégias preferidas das pessoas narcisistas, psicopatas ou tóxicas que normalizaram culturas venais de trabalho.

Além de administrar a descoberta de que foram exploradas por narcisistas, muitas vítimas ainda precisam lidar com a dor e a culpa de terem sido usadas como peões para ferirem outras pessoas, sem nem se darem conta disto.

10 – Lawfare e Assédio Jurídico

Dentro deste mesmo espírito, o narcisista se utiliza do judiciário e de outras instância de poder para processar a vítima, aceitar denúncias caluniosas, iniciar investigações sem embasamento etc.

Muitas vezes é bastante óbvio que a vítima é inocente e que o caso acabará favorável para ela. Mas o simples fato dela ter que gastar tempo, energia e dinheiro se defendendo é o objetivo.

A intenção é também difamá-la, pois no “tribunal” das redes sociais, se você está sendo processado, já é culpado. Portanto, o narcisista usa de websites e postagens nas redes sociais para divulgar o processo, não respeitando o sigilo e a presunção da inocência.

Narcisistas arrastam as disputas judiciais o máximo que podem, para ampliar a campanha difamatória e o desgaste energético da vítima com aquela pendência. Eles usam a lentidão do sistema a favor de suas estratégias de ataque.

Estas táticas são especialmente perversas quando os narcisistas são ricos ou poderosos. Porque eles entrarão na corte com toda a sua influência e com um arsenal jurídico que a vítima não tem.

E muitas vezes, o narcisista pode ganhar a causa injustamente, porque não houve “paridade de armas”. Ou até mesmo porque o narcisista recorreu a meios escusos para vencer, como propinas, arrastar o processo até a prescrição, dentre outras estratégias.

Por fim, narcisistas e pessoas tóxicas podem se utilizar de suas posições de poder para fazer “reserva de mercado1 através da distorção dos objetivos dos conselhos profissionais, sindicados, órgãos de classe e outras instituições representativas.

Os conselhos e órgãos de classe foram criados para proteger a sociedade de profissionais incompetentes e não para impedir os competentes de trabalharem. Foram feitos para proteger interesses de uma categoria e não os interesses pessoais de seus líderes.

Por exemplo, algumas pessoas de extrema má fé usam de suas posições de poder nos conselhos profissionais para acusarem injustamente seus principais concorrentes de exercício ilegal da profissão.

E fazem isto mesmo quando não exista nenhuma legislação que defina atribuições privativas para determinada categoria. Mesmo quando decisões anteriores do Ministério Público ou a jurisprudência já tenham mostrado que tais atribuições são compartilhadas com outras profissões. E que, portanto, ninguém pode decretar exclusividade sobre elas.

Ou seja, essas pessoas tóxicas tentam reduzir a concorrência competente “no tapetão”. E para isto utilizam-se de instituições ou agremiações de classe do qual alegam representar.

Narcisistas em posição de liderança fingem lutar por uma causa, mas na verdade representam somente seus próprios interesses. Não os interesses da educação, da cultura, da categoria profissional ou da sociedade como um todo.

11 – Ataques Ad Hominem: Escondendo-se atrás do anonimato

Narcisistas se escondem atrás do anonimato o tempo inteiro. A forma mais comum de fazê-lo é através de contas falsas nas redes sociais.

Com estas contas, narcisistas postam comentários malignos, impulsionam fake news, trollam seus concorrentes e ex-relacionamentos. E a lista de possibilidades está só começando.

No ambiente de trabalho, narcisistas se utilizam do anonimato nas avaliações de desempenho, na análise de artigos científicos ou mérito de editais.

Ocultos através do anonimato, redigem relatórios injustos e fazer ataques ad hominem. Estes ataques procuram desmerecer o autor de um trabalho ou ideia. E não avaliar o que deveria ser avaliado de fato: o mérito da produção ou da proposta em si, não a pessoa por trás dela.

12 – Stalking, assédio moral e/ou sexual

Algumas das manifestações mais perversas de abuso narcisístico acontecem através do assédio moral e/ou sexual. Narcisistas importunam ou assediam as pessoas ao seu redor, muitas vezes de forma acintosa e pública, tamanha a certeza de sua impunidade.

Outra tática que narcisistas se utilizam para assediar os outros é misturar de maneira inapropriada convívio profissional com pessoal. Isso é um desafio, principalmente no Brasil, onde as relações de amor ou de amizade com frequência se estabelecem também em ambientes de trabalho.

O calor humano, as brincadeiras risqué, a horizontalidade das relações e a informalidade – aspectos tão peculiares da cultura brasileira – nas mãos de narcisistas se tornam circunstâncias propícias ao abuso.

Narcisistas fingem amizade para que as pessoas baixem a guarda e revelem seus segredos, problemas pessoais, informações privilegiadas, dificuldades no trabalho etc. Depois, tudo isso será usado no processo de manipulação, chantagem, obtenção de vantagens e encobrimento dos erros do narcisista.

Por fim, narcisistas forçam “encontros casuais” de corredor para estabelecer com as vítimas conversas que deveriam ocorrer de maneira oficial, em reuniões e eventos agendados. E depois saem dizendo por aí que “está tudo resolvido” com aquela pessoa, quando se trata de um problema. Ou que a pessoa disse “isso ou aquilo”, quando na verdade a conversa aconteceu num contexto totalmente induzido e informal.

Seja um assédio velado, disfarçado de brincadeiras inapropriadas, ou algo extremamente agressivo e ostensivo, como o stalking, o abuso narcisístico e o assédio provocam inúmeros prejuízos e traumas psicológicos nas vítimas. Pode comprometer a carreira das pessoas ou, no mínimo, a sanidade mental delas.

13 – Jogar Sozinho: Não saber trabalhar em equipe

Felizmente, o mercado profissional nem sempre precisa ser como uma partida de tênis, na qual o objetivo é “cortar” o concorrente fora. O ambiente de trabalho pode ser como o frescobol: todo mundo ganha, todo mundo se diverte e ninguém deixa a peteca cair.

Mas narcisistas não jogam assim, mesmo quando poderiam. Eles sempre jogam o jogo do ganha-perde, no qual o vencedor não só leva o prêmio, como destrói o opositor. Pessoas saudáveis jogam o jogo do ganha-ganha, no qual quem vence leva muita gente junto. E todo mundo ganha de alguma forma.

Narcisistas não sabem trabalhar em equipe, têm extrema dificuldade de delegar, micro gerenciam seus subordinados e tentam tornar a empresa, instituição ou o chefe dependentes deles de alguma forma. Querem sempre derrubar os outros e se tornarem indispensáveis de uma maneira não saudável.

14 – Sabotar a concorrência

Narcisistas malignos ou psicopatas literalmente sabotam os colegas, chefes, instituições e empresas. Ou seja, não é apenas um comportamento tóxico velado, mas uma ação deliberada e, não raro, criminosa.

Eles podem impedir que os outros realizem o seu trabalho, dificultando ao máximo as condições laborais, tais como:

  • Não disponibilizando tempo ou equipamentos adequados para a realização das tarefas. Portanto, não cumprindo com as condições mínimas de qualidade de vida no trabalho, mas exigindo alto rendimento do funcionário mesmo assim.
  • Organizando a comunicação oficial e a gestão do trabalho da equipe usando WhatsApp e e-mails, não softwares profissionais de planejamento, onde tudo fica transparente e todo mundo sabe quem está fazendo o quê, quem disse o quê etc. Onde fica tudo registrado e, portanto, mais difícil de manipular e sabotar.
  • Não cumprindo com normas da empresa, regras trabalhistas, acordos definidos pela equipe, ordens de superiores etc.
  • Proibindo o trabalho remoto sem uma justificativa plausível, para fins de controle e exercício de poder sobre o funcionário.
  • Alterando criminosamente relatórios, dados, códigos, equipamentos etc. Às vezes até mesmo colocando a segurança das pessoas ou a sobrevivência da empresa em risco.
  • Falsificando ou alterando mensagens, e-mails, vídeos, áudios, prints de conversas, dentre outras “provas” que ele usará para prejudicar os concorrentes e para se dar bem.

Narcisistas usam seu carisma, conhecimento, rede de contatos, posição, dinheiro ou status para boicotar os outros de todas as formas possíveis.

Eles se acham acima do bem e do mal e confiam que sairão impunes, mesmo quando fazem estas coisas em plena luz do dia. Trabalhar com narcisistas, psicopatas e pessoas tóxicas é como se mover em um campo minado.

15 – Sprezzatura: Normalizar padrões insanos de produtividade

Sprezzatura2 é a capacidade de agir com indiferença ou com aparência de pouco esforço ao se executar ações extremamente difíceis e complexas. Esse ar blasé de sprezzatura pode ser usado, ainda, para mascarar as verdadeiras fontes de um sucesso ou resultado.

Na primeira situação, o narcisista parece fazer com leveza e graça algo que é extremamente difícil de se executar. Como uma bailarina que voa alegre no ar como se fosse uma borboleta, mas está fazendo um esforço muscular enorme e sentindo dores horríveis enquanto dança.

Para dar um exemplo do meio da gestão, tema principal deste blog, narcisistas fingem que suas vidas são produtivas e organizadas. Seu trabalho, seus planos de negócios, suas startups descoladas, seus projetos de pesquisa, sua rotina intelectual intensa… tudo flui às mil maravilhas.

Eles parecem ter controle de tudo e viver uma vida disciplinada, tranquila e feliz. Afinal de contas, narcisistas se sentem o rei da produtividade. Eles se acham uma máquina! A mesa deles parece impecável e arrumada, mas as gavetas estão cheias de lixo.

Ah, se pudéssemos ver o que realmente acontece nos bastidores… Na vida real? Os filhos mal veem a cara dele, o cônjuge é quem cuida de tudo na casa, ele mal dorme e está sempre correndo. Sua alta produtividade foi conquistada às custas de muito café e álcool, para dar conta de lidar com a pressão e cumprir os prazos. Isso quando não recorrem a coisas ainda mais drásticas, como cocaína e outras drogas estimulantes.

E o narc ainda vai olhar para você de cima, como se você fosse a incompetente preguiçosa. Afinal de contas, o sucesso para ele foi muito “natural” de se conquistar.

Na segunda situação, quando sua real fonte de sucesso é mascarada, o narcisista também age com ares de sprezzatura. Afinal de contas, ele nunca procrastina e está sempre produzindo muito mais do que a média das outras pessoas. Mas é porque… não é ele quem realmente fez tudo aquilo sozinho.

Escreveu um monte de artigos científicos A1 super citados? O narcisista assinou aquelas publicações, mas os seus orientandos e parceiros de pesquisa quem tiveram praticamente todo o trabalho. O setor que o narcisista gerencia bateu recorde de vendas no último trimestre? É porque ele aterrorizou cada um dos seus funcionários para que a meta fosse alcançada.

No Brasil temos um ditado popular sobre isso:

Papagaio come o milho, periquito leva a fama.

Narcisistas agem com sprezzatura quando normalizam padrões insustentáveis de produtividade. Quando impõem aos demais patamares que raramente podem ser alcançados por pessoas que priorizam bons valores e qualidade de vida.

Todo mundo tem 24 horas por dia. O sono consome cerca de oito horas. A vida pessoal e as demandas do dia a dia queimam, em tese, mais oito. Sobram oito para o trabalho. Se alguém está fazendo muitas coisas em um nível de excelência elevadíssimo, mas alega que trabalha somente oito horas por dia, desconfie.

Ou o trabalho dessa pessoa enche currículo, mas não tem qualidade. Ou tem qualidade, mas ela está levando o crédito pelo trabalho dos outros. Ou, por fim, é ela quem faz tudo aquilo mesmo, com excelência, mas trabalha bem mais do que oito horas por dia.

Em síntese, muitos psicopatas e narcisistas são workaholics (viciados em trabalho). Numa competição por uma vaga de emprego, promoção ou edital, o narcisista leva a melhor se a análise for meramente por resultados. Porque eles passam por cima de tudo e de todos para conseguirem o que querem, incluindo aí comprometer o seu próprio bem-estar.

Narcisistas workaholics não têm vida pessoal saudável. Negligenciam gravemente familiares, filhos, parentes, amigos, colegas, sono, saúde etc. Trabalham até nos finais de semana e nas férias. Vários exploram os seus subordinados, estagiários e orientandos para que engordem seus próprios currículos por eles.

Estes são os mais perigosos, porque alcançam altas esferas de poder e sucesso. Mas a que custo?

Um dos maiores estragos que narcisistas causam no meio acadêmico ou profissional é estabelecer e normalizar parâmetros de produtividade que só podem ser conquistados às custas da própria saúde, da vida pessoal, da família, dos subordinados explorados, do tempo livre, dos valores éticos ou da qualidade de vida.

Virando o jogo

Precisamos parar de ser inocentes e projetar nas outras pessoas o nosso próprio caráter e os nossos bons valores.

É difícil de acreditar no que os narcisistas são capazes, porque tendemos a medir os outros pela gente. Mas existem pessoas realmente malignas que estão dispostas a prejudicar os demais intencionalmente. E elas farão de tudo para nos destruírem no trabalho e na vida acadêmica.

Agora que já sabemos reconhecer alguns dos principais comportamentos venenosos utilizados por narcisistas, psicopatas e pessoas tóxicas, vamos agir com mais cuidado, prudência e estratégia em nossos relacionamentos profissionais. É sobre tudo isso que conversaremos nos próximos textos desta série sobre narcisismo.

Se identificou com este post? Ainda dá tempo de você virar esse jogo…

Notas

1 – Reserva de Mercado: Viralizou aqui os vídeos de uma brasileira formada em engenharia e cinema que conseguiu emprego como advogada em um importante escritório de advocacia de Londres. É que na Inglaterra pessoas com qualquer formação podem ser advogados, desde que comprovem sua competência passando em duas provas dificílimas. Seria algo equivalente à nossa Prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas aqui no Brasil somente pessoas formadas em Direito podem fazer a prova da OAB. Leia mais sobre isto na reportagem: Brasileira vira advogada em Londres sem faculdade de Direito: entenda.

2 – Sprezzatura é um termo italiano publicado no livro O Cortesão, de Baldassare Castiglione. Também conhecido como “a arte de esconder a arte“, significa basicamente tentar fazer parecer fácil algo que é muito difícil de se realizar.

Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga e todos os que me deram seu precioso feedback. Aos autores, pesquisadores e produtores de conteúdo sobre narcisismo, psicopatia, comportamentos tóxicos na gestão trabalho, por abrirem meus olhos para esta questão tão crucial.

Imagens: Pexels, iStock, Unsplash, Pixabay.

Informações Importantes e Termos de Uso

Clique aqui para ler os Avisos Importantes e Termos de Uso da série Narcisismo e compreender o que estou denominando de narcisista (não é só quem tem um transtorno de personalidade, é uma abordagem mais ampla) e porque uso o termo no masculino, não no feminino (qualquer um pode ser narcisista, inclusive mulheres).

No link acima esclareço, ainda, que este não é uma plataforma de saúde mental, mas um blog de opinião. Os textos são escritos com foco em gestão e produtividade, sob a ótica da vítima e da minha vivência pessoal. Se você está passando por problemas de saúde mental ou de relacionamentos, procure ajuda especializada urgentemente.

Por fim, caso ainda esteja se recuperando de um abuso narcisístico, não deixe o narcisista saber que você sabe sobre narcisismo.

Este blog está protegido pelas leis de direitos autorais. Para utilizar estes textos fora das regras de citação acadêmica do seu país, por favor, entre em contato.

Clique aqui para ler todos os posts sobre narcisismo
Foto de Ana sorrindo. Ana é uma mulher branca de meia-idade, com grandes olhos castanhos e cabelos ondulados com mechas louras, na altura dos ombros.

Ana Cecília é professora na UFMG, Brasil. Pesquisa gestão inclusiva e tecnologias da informação e comunicação para museus, bibliotecas e arquivos. Mora em Belo Horizonte com o esposo Alberto e seus dois filhos. Ama ler, desenhar, caminhar e viajar.

 

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