Checklist da Saúde dos Relacionamentos: Como identificar um abuso narcisista ou uma dinâmica tóxica?

Categorias: Narcisismo
Tags: Abuso Narcisístico, Narcisismo, Saúde dos Relacionamentos, Soft Skills, Valores
Primeira postagem: 31 maio, 2025

Segundo o mais longo estudo sobre felicidade realizado até hoje, conduzido pela Universidade de Harvard, a qualidade dos nossos relacionamentos tem profundo impacto na nossa saúde. E, claro, também afetam a nossa produtividade.

Aliás, ambientes ou relacionamentos tóxicos podem comprometer todas as demais áreas da nossa vida. Por isso é tão importante dedicarmos tempo para avaliarmos a saúde das nossas relações.

Compartilho, então, com meus queridos leitores e leitoras, as perguntas que tenho me feito para refletir sobre a saúde dos meus relacionamentos de todas as naturezas: pessoais, profissionais, acadêmicos, sociais, virtuais etc.

Ao longo do checklist, farei reflexões para esclarecer melhor por que determinadas perguntas são importantes.

Nem toda pergunta é pertinente a todo relacionamento. Portanto, selecione as cabíveis para o contexto que você está avaliando, bem como adapte-as para o seu perfil.

Ao responder ao checklist, preste atenção se nas respostas aparecem os sinais de alerta para narcisismo.

Em um próximo post, farei algumas considerações sobre as providências que podemos tomar após realizarmos este diagnóstico.

Vamos às perguntas…

Checklist para avaliar a saúde dos nossos relacionamentos

Esse relacionamento me faz bem? Parece que eu faço bem para essa pessoa? Somos felizes ou tóxicos juntos?

Quando interagimos, como me sinto depois? Alegre ou desgastada? Valorizada ou desvalorizada? Enriquecida ou drenada?

Sinto que sou “eu mesma” quando estou com essa pessoa? Sinto que posso ser vulnerável e autêntica sem receio? Sinto que sou suficiente e amada?

Temos compatibilidade de interesses, objetivos, valores, estilo de vida etc.?

É um relacionamento recíproco ou quase sempre uma via de mão única? Sinto-me numa relação transacional, na qual a pessoa não tem interesse real em mim, mas apenas no que eu posso oferecer?

Em que ocasiões essa pessoa me procura? Essa busca parece genuína? Eu também busco essa pessoa por motivos legítimos? Essa pessoa quase sempre só me procura quando precisa de um favor?

A gente fica feliz com o sucesso do outro e manifesta isso espontaneamente e efusivamente? Faz perguntas para saber mais sobre a vitória do outro ou só elogia rapidamente, meio que por obrigação? Ou pior ainda, não comenta nada?

Quando falo dos meus sucessos, a pessoa logo começa a colocar defeito nas minhas conquistas ou começa a falar das suas próprias realizações?

Eu me vejo ocultando minhas conquistas ou alegrias para não provocar a inveja da pessoa? Sinto que a pessoa fica desconfortável quando compartilho com ela o meu sucesso ou a minha felicidade?

Se houver um desequilíbrio na relação (idade, poder, dinheiro, experiência, currículo etc.), como a pessoa lida com esse desequilíbrio? Esta pessoa entende que este desequilíbrio lhe dá o direito de me destratar ou de se considerar superior a mim?


Admiração e Inveja Santa: A capacidade de ficar feliz pelos outros

No caso das amizades ou relacionamentos amorosos, se não temos liberdade de compartilhar nossos sonhos, planos e sucessos com nosso amigo, significa no mínimo que nosso relacionamento é superficial.

Se não compartilhamos nossas alegrias, porque o amigo está sempre de mal com a vida ou, pior ainda, porque prevemos que o sentimento predominante será a inveja, estamos definitivamente em um relacionamento tóxico.

Quando nos deparamos com alguém que tem algo que queremos ter ou ser, é natural que isso provoque em nós algum sentimento.

O mais saudável deles é a admiração, a capacidade de se inspirar no sucesso ou alegria de alguém e buscar alcançar algo similar. Ou mesmo simplesmente admirar a pessoa, mesmo que não se queira conquistar o que ela conquistou. Na admiração, não há qualquer sentimento de tristeza.

O segundo sentimento mais saudável é a inveja branca, como chamamos no português brasileiro. Como estas associações de cores são racismos estruturais da linguagem, chamarei aqui de inveja “santa”.

Na inveja santa, a pessoa fica triste por não ser ou ter algo, mas ainda assim consegue ficar genuinamente feliz pelo sucesso do outro. Ou seja, a pessoa deseja algo também e não “tomar” o que o outro tem.

O sentimento predominante é de alegria, não de tristeza, porque alguém que se ama está feliz. Quanto mais empática uma pessoa for, maior a sua capacidade de sentir admiração e inveja santa, comemorando genuinamente o sucesso alheio.

O pior dos sentimentos é a inveja maligna. Nesta, além de ficar extremamente triste por si, a pessoa invejosa fica com raiva do alvo de sua inveja. Mesmo que a pessoa invejosa não tome uma iniciativa consciente para prejudicar o outro, inconscientemente ela pode acabar agindo para sabotar o próximo.

Portanto, não subestime a inveja alheia. Se você se vê ocultando ou diminuindo suas próprias conquistas para não irritar alguém, isso é uma forte bandeira vermelha que não pode ser ignorada. Isso significa que seu consciente (ou inconsciente) está te dizendo que este relacionamento não é seguro e saudável.

Um outro aspecto é que narcisistas são invejosos patológicos e projetam nos outros esta inveja. O narcisista acredita que todo mundo o inveja profundamente, ele se acha o centro do mundo, a última bolacha do pacote. E também pensa que todos compartilham das mesmas ambições e (falta) de valores que ele.

Portanto, é preciso ficar atento quando alguém te acusa constantemente de inveja. Pode ser, na verdade, um narcisista fazendo uma confissão velada da própria inveja doentia que ele sente.

Por fim, eu entendo que o nosso verdadeiro tesouro é o que nós somos como seres humanos. Ou seja, nosso caráter, valores, empatia, generosidade etc. É isto que determina o nosso valor e é isso que de melhor temos para oferecer para o outro, em nossos relacionamentos, e para o mundo, como contribuição.

Cuidado redobrado, então, se uma pessoa nos destrata ou se sente no direito de nos ignorar, porque ela tem algo que não temos. Ou se está o tempo todo “ranqueando” a si mesma em relação a nós e aos demais, tentando provocar inveja e admiração.

Se uma pessoa que tem mais poder, dinheiro, currículo, títulos acadêmicos etc. entende que, por causa destas conquistas extrínsecas, é superior a nós, isto não é uma bandeira vermelha… é uma bandeira pirata para narcisismo!


Ficamos solidários com o sofrimento do outro neste relacionamento? Quando sabemos de alguma notícia importante (falecimento, doenças etc.), manifestamos compaixão e oferecemos ajuda efetiva? Ou não comentamos nada? A gente se ajuda nos momentos difíceis? Nas horas de crise, podemos contar um com o outro ou fico a ver navios?

Demonstramos gratidão de modo apropriado? Os esforços que são feitos são reconhecidos e recompensados?

Com quem essa pessoa anda? Quem chama de amigos? Por que ela os escolheu? Os valores e os comportamentos destes supostos amigos são compatíveis com o que ela afirma ser para mim? E são compatíveis com os meus valores?

Quando navego nas redes sociais desta pessoa, quais amigos estão adicionados? Quais conteúdos e amigos o algoritmo me oferece logo após navegar pelas redes sociais desta pessoa?


Diga-me com quem andas e direi quem és

Começo esta reflexão com um ditado antigo, que dá título à seção.

Se o seu amigo ou colega de trabalho tem amizades e parcerias muito diferentes do que você esperaria, isso é uma bandeira vermelha. Pois a pessoa pode estar fingindo um personagem para você. Enquanto, no fundo, ela é igual àquelas pessoas com as quais convive.

E mesmo que ela seja diferente, se continuar convivendo com essas pessoas tóxicas, vai acabar incorporando seus valores e hábitos. Todos nós ou somos influenciados ou influenciamos as pessoas ao nosso redor. Em geral, as duas coisas acontecem ao mesmo tempo. Influenciamos e somos influenciados pelos nossos relacionamentos.

Mas se estamos convivendo com alguém narcisista, sociopata ou extremamente tóxico, a chance dessa via não ser equilibrada é enorme. E o empata sai perdendo esse jogo.

Talvez essa pessoa supostamente “boa”, cercada de amigos “tóxicos” esteja, inclusive, rindo da sua cara nas suas costas, porque você acredita nela ou porque você gosta dela. E você não faz ideia de que, na verdade, essa pessoa te acha ingênua ou idiota.

Os iguais se atraem. Se uma pessoa se cerca de amizades e parceiros profissionais que não são saudáveis e éticos, ela provavelmente também não é saudável e ética.

Claro, a exceção fica para situações em que a pessoa quer sair daquele relacionamento, mas ainda não conseguiu ou não pode. Por exemplo, ela está secretamente procurando um outro emprego. Ou no âmbito familiar, ela tolera os parentes tóxicos, porque faz questão de manter contato com os saudáveis.

No que se refere à família e trabalho, é preciso dar o benefício da dúvida. Porque não sabemos se a pessoa está contente ali.

Mas no que se refere às amizades, parcerias e relacionamentos opcionais, não. Cercar-se de pessoas tóxicas voluntariamente é uma bandeira vermelha que não pode ser ignorada. Se esta pessoa não é um abusador, pode estar sendo abusada.

Em tempos de redes sociais, vale também observar quem são os amigos adicionados em seu perfil. E se esta pessoa tiver uma presença on-line pública com muitos seguidores, vale também prestar atenção em que tipo de conteúdo o algoritmo te apresenta logo após assistir àquele vídeo ou ler aquele post. Ou que tipo de pessoa comenta nestas postagens.

Faça esta observação não somente para as pessoas que você conhece, mas também para os influenciadores ou intelectuais públicos dos quais você é audiência.

Nas livrarias virtuais, que tipo de publicações o algoritmo te oferece após comprar aquele livro? No YouTube, quais canais e vídeos o algoritmo te traz depois de assistir àquela pessoa?

Claro, os algoritmos adoram polêmicas. Então, pode ser que ele esteja te apresentando o oposto justamente para te manter ali conectado pela raiva. Ou talvez não. Talvez o algoritmo esteja te trazendo aquele conteúdo estranho justamente porque a audiência desse influenciador costuma consumir aquele mesmo tipo de coisa com frequência.

Por exemplo, talvez você ache que está seguindo um intelectual progressista. Mas só depois de algum escândalo, você se dá conta de que o seu influenciador preferido era na verdade um “esquerdomacho”, como dizemos aqui no Brasil.

Parênteses: Esquerdomacho é aquele intelectual de esquerda que adora citar livros inteligentes e se acha o suprassumo da ética, o líder de uma “tribo” avant-garde. Só que, em sua vida pessoal, age de forma oposta ao seu discurso. Nos últimos anos tivemos alguns escândalos inacreditáveis no Brasil e no mundo, envolvendo a suposta “intelligentsia progressista”.

Então, depois do escândalo, com uma visão retrospectiva, fica mais fácil notar que no conteúdo do esquerdomacho existiam várias falas equivocadas que sutilmente revelavam o seu narcisismo, elitismo, sexismo, xenofobia etc. E que ele usou todos as oportunidades que a sorte lhe deu, como privilégios de nascimento e talentos, simplesmente para fazer fama e dinheiro, enganando sua audiência e seus leitores, inclusive você e eu!

Nós simplesmente ignoramos todas estas bandeiras vermelhas, porque queríamos demais acreditar que finalmente tínhamos encontrado alguém gentil, inteligente, culto e ético que aborda algum assunto específico do jeito que nós gostaríamos de ouvir.

Parecia um gentlemen… Só que não.


Como essa pessoa fala dos outros? Geralmente gosta de fazer fofocas e criticar os demais o tempo todo? Em especial, como fala de “ex-alguma” coisa? Ex-namoradas, ex-chefes, ex-colegas, ex-amigos e por aí vai. Consigo confirmar estas informações de alguma maneira, para além da palavra da pessoa?

Essa pessoa com frequência superestima suas habilidades e importância e subestima a dos demais em suas falas? Sempre que vê alguém bem-sucedido, começa a achar razões não meritórias para aquela pessoa ter conseguido aquele sucesso? Ou a pessoa reconhece o talento e esforço alheio, quando eles existem?

Tenho liberdade de dizer “não” ou tecer críticas construtivas sem que a pessoa tenha uma reação defensiva, raivosa ou passivo-agressiva?

Como a pessoa reage a uma negativa ou crítica é um dos pontos mais importantes a serem observados para detectar a saúde emocional de alguém. A incapacidade de ouvir feedbacks negativos não é uma bandeira vermelha: é uma bandeira pirata estapeando a nossa cara!

A pessoa assume com frequência as responsabilidades e consequências pelos seus atos?

A pessoa tem dificuldades de admitir que não sabe algo? Apressa-se em dissertar com assertividade sobre assuntos complexos que não são sua especialidade? Opina sobre tudo, mesmo sobre temas que exigiriam maior reflexão?

Pedimos desculpas quando erramos? O outro aceita esse pedido e deixa para trás o ocorrido? O passado é trazido à baila com frequência? É usado como arma de manipulação? A pessoa revive problemas que já trabalhamos exaustivamente em outra ocasião?

Falando em passado, como é o passado desta pessoa? Investiguei se o que a pessoa afirma sobre seu passado é verdade? O que ela e os outros dizem acerca dos seus antigos relacionamentos e empregos? Como essa pessoa se comportou antes de me conhecer?


Nosso passado nos condena?

A maioria das pessoas costuma repetir os comportamentos do passado, tanto os erros, quanto os acertos. Nós somos criaturas de hábitos. Uma vez adquiridos, eles são incrivelmente difíceis de serem mudados.

Por exemplo, se uma pessoa traiu nos seus relacionamentos anteriores, há grandes chances de trair novamente. Se já abusou de álcool ou outras substâncias, há grandes chances de ter recaída. Se mentiu descaradamente antes, provavelmente vai mentir de novo. Se já teve comportamentos pouco saudáveis, em situações de estresse, essa pessoa pode retomar estes comportamentos.

Isso significa que ninguém merece uma segunda chance? Que ninguém muda ou amadurece? Não, mas precisamos entrar no relacionamento sabendo que a chance de recaída é estatisticamente esmagadora! Aí cada um precisa avaliar se vale a pena correr este risco ou não.

Um grande equívoco é elaborar justificativas frágeis para manter o relacionamento, tais como:

Ele não cumpriu os prazos e deixou a equipe inteira na mão várias vezes, mas desta vez eu vou ajudá-lo a não procrastinar. Ele me prometeu que vai mudar.

Ele traiu as namoradas antes, mas não vai me trair, porque eu sou especial e não o trato mal como elas tratavam. Dessa vez ele realmente encontrou o amor verdadeiro.

Ela era viciada em jogos de azar, mas agora está fazendo terapia e não vai mais fazer dívidas por conta de apostas. Posso manter nossa conta conjunta, porque ela nunca faria nada com o nosso dinheiro sem minha autorização.

“Ele já me bateu antes, mas agora que se tornou pai, não vai ter coragem de bater na mãe dos filhos dele.”

“Ela mentiu para mim várias vezes, mas foi no começo da amizade. Ela ficou com medo de falar a verdade e eu não ser de confiança. Mas agora ela sabe que somos melhores amigas e não vai mentir nunca mais.”

Ou seja, é perigoso a vítima se apegar a razões pouco sólidas para considerar que a pessoa não vai ter uma recaída, como nestes exemplos acima. É perigoso, ainda, arriscar simplesmente por carência, pressa ou desespero. Antes só do que mal acompanhado! Antes desempregado procurando uma boa oportunidade do que trabalhando no inferno!

Então, além de investigar minuciosamente o passado da pessoa, precisamos nos fazer as seguintes perguntas:

“Se esta pessoa tiver uma recaída e cometer os mesmos erros do passado, o que isso implica para mim ou para o grupo (equipe de trabalho, família, filhos etc.)?

Estou disposta e tenho condições de encarar as consequências desta recaída? Uma recaída impactaria pessoas inocentes ou indefesas (ex: clientes da empresa, nossos futuros filhos)?

Quais os indícios concretos ou garantias que tenho de que esta mudança é realmente sólida e permanente? Há quantos anos esta pessoa está neste novo estilo de vida sem nenhuma recaída?


De volta ao checklist…

Como essa pessoa reage quando passa por crises? Reage de modo maduro e sábio às adversidades da vida?

Como essa pessoa se comporta quando está alcoolizada? E em situações atípicas? Por exemplo: batidas de carro, problemas estressantes, emergências, viagens, interação com pessoas de outras culturas, com pessoas que falam outras línguas etc.

Como essa pessoa reage às pessoas tóxicas ao seu redor (colegas, familiares, amigos etc.)? Ela se deixa dominar e abusar ou ela impõe limites? E mesmo em relação às pessoas saudáveis, ela sabe cortar o “cordão umbilical” e viver uma vida independente? Ou deixa os outros interferirem em sua vida de forma não saudável?

Quando relato um problema, a pessoa se concentra no meu problema ou começa a falar dos seus próprios problemas logo em seguida? A pessoa minimiza a minha dor por que seu sofrimento é sempre mais importante ou maior do que o meu?

Nossas conversas tendem a ser um monólogo sobre a pessoa ou há troca real? Sou apenas uma audiência ou temos um verdadeiro diálogo?

A comunicação flui ou é truncada, sempre cheia de indiretas, insinuações ou mal-entendidos? Sinto-me constantemente provocada?

É frequente a pessoa negar que disse alguma coisa, que fez alguma coisa ou questionar a minha versão/interpretação dos fatos (gaslighting)? É alguém dado a sofismas? Costuma relatar versões diferentes sobre eventos que presenciei? Quando confrontada, a pessoa pelo menos reconhece que sua memória pode não ser a versão mais precisa dos fatos?

Esta pessoa vive se safando de coisas erradas que faz? E pior ainda: essa pessoa se gaba de ser mais esperta do que os outros e sair sempre impune? Tenho constante sensação de injustiça ao observar a vida desta pessoa?


Narcisistas, psicopatas e pessoas tóxicas sempre se dão bem?

Muitos canalhas estão em posições de poder e parecem estar “se dando bem”. É importante, então, refletirmos alguns pontos que podem aplacar um pouco este genuíno sentimento de injustiça, já que vivemos num mundo injusto.

Meu objetivo aqui não é provocar Schadenfreude – a alegria pela desgraça alheia. Ou pior ainda, provocar empatia “perigosa” por estas pessoas abusivas, que são mesmo dignas de muita pena. (Mas não caia no hoovering por conta disto!) O objetivo aqui é expor a realidade nua e crua dos fatos.

Narcisistas e pessoas tóxicas são profundamente infelizes, não obstante a fachada falsa de felicidade que eles tentam ostentar nas suas redes sociais. Essas pessoas são consumidas diariamente pela inveja, ansiedade, paranoia de perseguição e medos avassaladores.

Têm medo da morte, medo de não deixar um legado que os imortalizem, medo de serem irrelevantes, medo do fracasso, medo do outro, medo de não serem admirados, medo de serem expostos em suas hipocrisias… medo de tudo!

Além disto, são constantemente insatisfeitos. Eles tentam parecer confiantes, mas por dentro são extremamente inseguros. Estão sempre na defensiva. A arrogância ou a defensividade deles são mecanismos de defesa para esconder e proteger um ego fragilizado, que se ofende com qualquer coisa.

É muito fácil atingir um narcisista, aliás. Sua autoconfiança e alegria se quebram como um cristal mediante qualquer crítica ou fracasso. Quer destruir um narcisista? Basta entrar em Contato Zero ou fazer o Pedra Cinza. Basta tornar-se indiferente a ele e, com isso, evidenciar toda a sua irrelevância.

Afinal de contas, todo o esforço diário destas pessoas tóxicas é para se sentirem indispensáveis, únicos, especiais, memoráveis, superiores, melhores do que os outros.

O “problema” é que todo mundo tem algo que eles não têm. Isso é normal na vida, ninguém tem tudo. Então, todas as pessoas, literalmente, são fontes de competição, vergonha, sentimento de inadequação e de inveja.

Sabendo disto, não jogue o jogo dos narcisistas. Esse jogo está fora da nossa liga, porque é um jogo patológico. São pessoas sem caráter, que vivem no mundo da fantasia. Estão dispostas a mentir, trapacear, fingir, enganar, plagiar etc.

Você sabe amar e ser amado? Tem empatia e compaixão pelo próximo? É grato pelo que conquistou? É satisfeito pela vida que leva? Vive no momento presente? É cercado por pessoas que genuinamente te admiram pelo que você é, não pela fachada que você finge ser? Tem fé e esperança? Você é feliz?

Então, meu caro leitor, minha cara leitora, você já é o vencedor, a vencedora!

Mas alguém pode alegar: “Ana, eu sei disso tudo, mas eu quero ver a justiça ser feita!” Eu entendo, você quer ver essas pessoas mau caráter demitidas, falidas, presas, destituídas de seus cargos de poder etc. Não por vingança simplesmente, mas por justiça. Isso vai acontecer um dia?

Não é garantido, o mundo é realmente injusto. Mas narcisistas são ousados, eles correm cada vez mais e mais riscos. Então, provavelmente pessoas narcisista têm grandes chances de terminar a vida se dando muito mal.

Como somos humanos, vamos nos permitir sentir um pouquinho de Schadenfreude… Muitos destes narcisistas não têm um só minuto de paz, acham que o mundo está sempre conspirando contra eles. Vivem aterrorizados constantemente pela possibilidade de que a conta um dia finalmente chegue.


Quando o outro faz algo que me incomoda, tenho liberdade de pedir que pare? A pessoa acata o meu pedido ou continua com a mesma atitude?

A pessoa fala coisas confusas e desconexas (dissonância cognitiva)? Por exemplo: “Eu não sei se eu te amo, mas quero você para sempre ao meu lado”. Ou o contrário: “Eu te amo, mas não vejo um futuro com você.” No ambiente de trabalho: “Você é muito competente, mas não consegue fazer as coisas direito.” Ou ainda: “Você é muito dedicada e trabalha super bem, mas não merece um aumento.

A pessoa “some” no meio de uma conversa on-line (mensagens, e-mails etc.) ou é intermitente em suas respostas? Fica claro quando a conversa on-line se encerrou (a gente se despede corretamente) ou fica algo suspenso no ar (perguntas não respondidas, trocas interrompidas no meio etc.)? Sobre este tema, vide o post Jogos Mentais Perigosos e Narcisismo: Não responder mensagens, ghosting, zombieing e “quente e frio”

A pessoa só responde quando lhe convém ou quando escrevo o que lhe agrada? Isso é raro ou frequente? A pessoa parece utilizar a comunicação digital como uma “arma” para demonstrar superioridade? Ou para me ferir com seu silêncio? Isso me parece desorganização, negligência ou um jogo intencional?

A pessoa faz tratamento de silêncio? Ela usa o silêncio ou some para me punir de alguma forma? Esse silêncio é seguido depois de algo desagradável (uma crítica que fiz, um “não” que dei etc.)?

Parece que estamos sempre “jogando” com o outro um jogo mental sem regras ou há previsibilidade e clareza nas reações? Quando analiso o relacionamento, vejo lógica e coerência? Ou atitudes caóticas, confusas e imprevisíveis?

Os combinados são mantidos na maioria das vezes? As promessas, limites e acordos geralmente são cumpridos e respeitados?

A pessoa volta e meia desmarca os compromissos na última hora sem razão justificável? A pessoa é pontual ou sempre desrespeita o meu tempo? Isso parece desorganização ou intencional?


Cancelamentos ou atrasos como exercício de poder e controle

No Brasil e em alguns outros países, as pessoas costumam atrasar com frequência. Faz parte da cultura a tolerância com um certo atraso. Os gerentes inclusive programam os eventos e reuniões prevendo isto, o que é o fim da picada.

Apesar de ser um traço cultural de alguns lugares, fique atento à essa bandeira vermelha, pois narcisistas usam o atraso para fazerem “entradas triunfais” ou para demonstrarem superioridade e exercer controle sobre você. No mínimo, esta pessoa acha que o tempo dela vale mais do que o seu, porque não se deu ao trabalho de se esforçar para ser pontual.

Isso vale também para cancelamentos de última hora ou prometer e não cumprir. Se mudanças de planos se tornaram um hábito, é uma bandeira vermelha.

Se atrasar ou dar o bolo é um dos poucos comportamentos tóxicos da pessoa, pode ser realmente desordem. Tem gente que não adquiriu a disciplina de se organizar e sofre com isso. Mas se este comportamento vem acompanhado de outros preocupantes, preste bastante atenção no todo!


O que a pessoa diz parece verdadeiro? Eu me pego checando as informações que ela me passa e encontrando mentiras, omissões ou incompatibilidades estranhas?

Como a pessoa trata os outros? Em especial, como trata seus subordinados no trabalho ou os prestadores de serviços, como garçons, empregados domésticos, secretários, porteiros, estudantes (se for professor) etc.

A pessoa é confiável? Os segredos que confidencio são guardados?

Esta pessoa faz espelhamento? Parece concordar comigo para me agradar simplesmente? Copia minhas ideias e pensamentos sem me dar os créditos?

Já recebi notícias de que esta pessoa faz campanha difamatória contra mim ou fala de mal de mim nas minhas costas? Esta pessoa faz campanha difamatória contra outros para mim? (Isso é importante, porque se faz com outros, você é o próximo!)

Esta pessoa me faz sentir segura e protegida? Há companheirismo e nós protegemos uma à outra?

Minhas fragilidades e erros são usados contra mim numa discussão? A pessoa fica mencionando meus defeitos e os usa para me irritar, ainda que em tom de “brincadeira”, “preocupação” ou “ajuda”?

Há coerência entre discurso e atitudes? No caso de pessoas em posição de liderança, ela lidera pelo exemplo? Faz ela mesma o que exige dos demais?

A persona pública dessa pessoa é muito diferente do seu comportamento no ambiente privado? A vida pessoal dessa pessoa é muito diferente da vida profissional?


O mito da separação entre vida pessoal e vida profissional

Quando influenciadores, artistas, escritores, políticos, intelectuais públicos ou profissionais notórios são expostos na mídia por ter uma vida pessoal tóxica, é extremamente comum as pessoas alegarem que “a vida pessoal de alguém não tem nada a ver com sua vida profissional”.

Nas minhas aulas de gestão, este é também o argumento que alguns alunos me dão quando eu falo sobre a importância de se preocupar com o que se veste (códigos de vestimenta), o que se posta nas redes sociais, o que se faz fora do trabalho etc.

Alguns dizem: “O que eu faço fora do museu ou nas redes sociais é da minha conta somente, não é da conta do museu e nem do meu chefe.

Aí eu invariavelmente dou o seguinte exemplo fictício, que reproduzo aqui.

Você está passando muito mal e corre para o pronto-socorro. Lá, é informado de que precisará passar por uma operação urgente no coração. Caso contrário, você morrerá em poucas horas.

Existem dois médicos de plantão naquele dia, João e Pedro. João e Pedro se formaram na mesma faculdade, na mesma turma. Ambos têm a mesma idade, os mesmos anos de experiência profissional e se especializaram em cirurgia naquele mesmo hospital que você está internado.

Mas eis o que você descobre sobre a vida deles, conversando com os enfermeiros (que não pensaram duas vezes em entregar estas informações para você) e stalkeando ambos na Web:

Cirurgião Opção 1 – Pedro é festeiro e adora uma balada. Vive postando fotografias e selfies dele nas festas. Algumas postagens são bem constrangedoras, como ele dançando bêbado de cueca no final da sua formatura. Mas Pedro não vê nada demais em postar isso para todo mundo ver. Ele nunca consegue manter um relacionamento pessoal de longo prazo, suas postagens são uma sequência de novos rostos apaixonados. E nenhuma enfermeira tem a menor paciência com o fato de que ele as trata com arrogância e mal humor. Pedro adora beber até cair e às vezes também usa algumas drogas ilícitas. É comum ele passar a noite inteira na boate ou no bar e ir direto para o plantão no hospital, na manhã seguinte. De ressaca, Pedro toma dois Engovs, dois Paracetamol para a dor de cabeça, um litro de café para acordar. E, então, desaba na cama do quarto dos médicos, torcendo para não aparecer nenhuma emergência, porque ele está se sentindo um lixo.

Cirurgião Opção 2 – João está num relacionamento sério há dois anos. Ele até tem redes sociais, mas posta sabiamente, entendendo que o que ele posta ali tem impacto também na sua vida profissional e no hospital no qual trabalha. Quando tem plantão no dia seguinte, João não bebe álcool e costuma sair para jantar no começo da noite com sua namorada, para poder dormir cedo e recuperar as energias. Além disso, João acorda regularmente às 5 da manhã, porque faz uma caminhada e medita antes de ir para o hospital. Ele chega no plantão, que começa às 7 da manhã, revigorado, bem-humorado e bem-disposto. As enfermeiras o adoram, porque ele é gentil não só com os pacientes, mas também com a equipe nos bastidores. Enquanto aguarda o surgimento de alguma demanda, na Copa dos Médicos, João aproveita o tempo para tomar um café e se atualizar, lendo artigos científicos de medicina.

Seja honesto consigo mesmo e me diga: Se for facultado a você a opção de escolher quem fará uma longa e delicada cirurgia no seu coração, que pode ser fatal, você escolhe Pedro ou João? Claro que você escolheu João! E isso não vale só para medicina…

O editor que trai e mente para a esposa, mente também para os autores. Fala para eles que venderam menos livros do que na realidade, para ganhar mais dinheiro em cima dessas vendas. Ou até mesmo por inveja, para que o autor não saiba o quanto seu livro é um best-seller.

O professor que abusa psicologicamente da esposa ou dos filhos, vai acabar cometendo algum abuso moral e/ou sexual contra seus alunos e orientandos.

O influenciador científico que mantém cinco namoradas ao mesmo tempo e mente para todas elas, vai acabar mentindo também para a sua audiência e para seus parceiros de trabalho.

O aluno que copia tarefas dos colegas é o futuro chefe que vai plagiar as ideias dos funcionários sem dar-lhes os devidos créditos.

Nós não somos robôs ou máquinas. Nós não compartimentalizamos nossas “funções” e “papeis” no mundo. Nós somos um só, atuando em várias esferas da vida.

Não acredite no papo de “ele é um canalha na vida pessoal, mas é um gênio na vida profissional”. A frase correta seria: “Ele é um canalha.” Ponto final. Na vida profissional isso ainda não o prejudicou ou ainda não veio a público. Ainda. É só uma questão de tempo.


Estou ignorando comportamentos equivocados por que a parte boa do relacionamento é muito prazerosa? Ou por que a pessoa me parece incrível e especial? Estou cometendo o equívoco de deixar que a minha admiração pela pessoa ou o prazer que o relacionamento me proporciona comande minhas decisões?

Estou ignorando falas ou piadas estranhas, porque a pessoa diz em seguida que estava “só brincando”? Há alguma chance desta pessoa estar utilizando o humor “politicamente incorreto” ou “ácido” para expressar aquilo que ela realmente sente ou pensa?

A pessoa usa de “brincadeiras”, ironias e outras estratégias para fugir de temas desconfortáveis? Isso é raro ou frequente?

A visão que tenho dessa pessoa bate com a opinião de outras pessoas que convivem com ela de modo mais próximo? Se não, por que há essa discrepância de avaliação? Estou me iludindo ou tenho uma visão realista dessa pessoa e do nosso relacionamento?

Estou viciada na adrenalina da montanha russa de emoções que essa pessoa me proporciona? O que eu sinto por essa pessoa é saudável ou é viciante? Estou me sentindo atraída pelo “desafio” dessa relação? Estou viciada em pessoas emocionalmente perigosas?

Essa pessoa supre as minhas expectativas para o papel que se propõe na minha vida, seja como cônjuge, parceiro ou parceira, amigo, colega de trabalho, mentor, chefe, líder de equipe etc.? Eu supro as expectativas da pessoa no papel que me cabe?

No caso dos relacionamentos mais próximos (amorosos, amizades, família etc.), essa pessoa é capaz de estabelecer conexão, intimidade e conversas significativas? Consegue avaliar e articular sobre seus próprios sentimentos, planos futuros, desejos e atitudes? Ou seja, é uma pessoa profunda ou rasa? Nossas conversas constroem intimidade ou só jogamos “papo fora”?

Há progresso, tanto no relacionamento, quanto na própria pessoa como ser humano? Melhoramos ou pioramos com o tempo? Quais os elementos concretos e factuais que me fazem constatar que houve progresso e melhora? Consigo listá-los objetivamente?

Qual a motivação para manter esse relacionamento? Por que estou neste relacionamento? São os motivos certos para isso ou apenas razões duvidosas (vaidade, benefícios, comodidade, medo da solidão, familiaridade, história juntos, preguiça de mudar de ambiente, laços de sangue, carência, culpa etc.)?

Como entrei neste relacionamento? Eu gostei naturalmente dessa pessoa ou eu “escolhi gostar”? Ou seja, não apreciei muito esse relacionamento deste o começo, mas eu o racionalizei por algum motivo para justificá-lo? Se sim, essa racionalização seguiu bons princípios e motivações ou não?

Este relacionamento foi intencional ou algo movido pelas circunstâncias? Por exemplo, esta pessoa é alguém da família, do círculo de amizade ou do trabalho, cuja convivência no início era inevitável? Nestes casos não intencionais, estou investindo demais em um relacionamento que eu sequer escolhi? Este investimento se justifica? A pessoa fez por merecer ou simplesmente está se aproveitando destas circunstâncias para obter vantagem no relacionamento?

O que perco ou ganho se ficar ou sair desse relacionamento? O que a pessoa perde se eu sair? Termine o checklist com a famosa lista dos prós e contras!


E por aí vai… Já deu para entender o tipo de pergunta que podemos nos fazer para compreendermos melhor como anda a saúde dos nossos relacionamentos.

Ao responder à estas perguntas, vá ainda notando se nas suas respostas aparecem as bandeiras vermelhas tóxicas que elencamos nesta série, pois elas são indicativas de que você pode estar lidando com uma pessoa narcisista.

O ponto mais importante deste processo é ser honesto consigo mesmo. E, também, fazê-lo por escrito, mesmo que você decida que vai deletar ou queimar as respostas no final. Quando nos obrigamos a articular e colocar certas verdades no papel, fica mais difícil mentir para si mesmo.

Depois de responder o checklist, leia as respostas em voz alta. O impacto deste processo é chocante. Porque você se dá conta do absurdo de frases como “meu chefe sempre ignora minhas mensagens importantes e me deixa no sufoco”, “minha melhor amiga desaparece por semanas quando eu a critico” ou “meu namorado me traiu com a colega da empresa e os dois ainda viajam juntos a trabalho com frequência”.

Isto é aceitável? Claro que não! E escrever e ler em voz alta estas respostas e acontecimentos ajudarão o seu cérebro a perceber a gravidade do que se está vivendo. Somente após constatada a real dimensão de um problema é que se torna possível buscar uma solução efetiva para ele.

Como dizem os médicos, “não se cumprimenta quem você não conhece”. Ou seja, não se reconhece uma doença que você nem sabe que existe. Talvez a “doença” que você tenha e que está destruindo a sua felicidade ou a sua carreira seja um relacionamento tóxico e abusivo com um narcisista.

Notas

Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga e todos os que me deram seu precioso feedback. Aos autores, pesquisadores e produtores de conteúdo sobre narcisismo, psicopatia, comportamentos tóxicos na gestão trabalho, por abrirem meus olhos para esta questão tão crucial.

Imagens: Livro Walden (ChatGPT), Demais Imagens (PexelsUnsplashPixabay).

Informações Importantes e Termos de Uso

Clique aqui para ler os Avisos Importantes e Termos de Uso da série Narcisismo e compreender o que estou denominando de narcisista (não é só quem tem um transtorno de personalidade, é uma abordagem mais ampla) e porque uso o termo no masculino, não no feminino (qualquer um pode ser narcisista, inclusive mulheres).

No link acima esclareço, ainda, que este não é uma plataforma de saúde mental, mas um blog de opinião. Os textos são escritos com foco em gestão e produtividade, sob a ótica da vítima e da minha vivência pessoal. Se você está passando por problemas de saúde mental ou de relacionamentos, procure ajuda especializada urgentemente.

Por fim, caso ainda esteja se recuperando de um abuso narcisístico, não deixe o narcisista saber que você sabe sobre narcisismo.

Este blog está protegido pelas leis de direitos autorais. Para utilizar estes textos fora das regras de citação acadêmica do seu país, por favor, entre em contato.

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Foto de Ana sorrindo. Ana é uma mulher branca de meia-idade, com grandes olhos castanhos e cabelos ondulados com mechas louras, na altura dos ombros.

Ana Cecília é professora na Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, Brasil. Pesquisa gestão inclusiva e TIC para museus e patrimônio cultural. Mora em Belo Horizonte com o esposo Alberto e seus dois filhos. Ama ler, desenhar, caminhar e viajar.

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