Mês passado o império WhatsApp-Facebook-Instagram saiu do ar globalmente por cerca de sete horas, causando comoção mundial e inúmeros prejuízos, especialmente para aqueles que construíram a comunicação dos seus negócios com base exclusivamente nestes aplicativos.
Já fui uma intensa usuária de redes sociais, apesar de ter entrado nelas tardiamente. Hoje tenho contas no Instagram e no Facebook sem amigos adicionados e sem postagens no meu perfil, utilizado somente para pesquisas, consultas e interações esporádicas em grupos temáticos relacionados ao meu trabalho.
Neste texto, contudo, quero falar especificamente do WhatsApp, aplicativo de mensagens do qual saí em 2019 para não mais voltar. Também deixei o Telegram. Conto para vocês aqui, portanto, como é viver sem esses aplicativos.
Estatísticas alarmantes de uso do WhatsApp e do tempo de tela no Brasil
A pesquisa Mensageria no Brasil, realizada pelo projeto Panorama (Mobile Time e Opinion Box)1, publicou novos resultados em agosto de 2021. Considerando pessoas com mais de 16 anos no Brasil, que tenham smartphone e acesso à Internet, o relatório afirma que:
- 99% possuem WhatsApp instalado em seus celulares, sendo as demais estatísticas: Instagram 82%, Messenger do Facebook 76%, Telegram 53% e Signal 12%.
- 86% acessam o WhatsApp diariamente, 9% quase todos os dias. Ou seja, 95% dos brasileiros acessam este app praticamente todos os dias.
- 80% se comunicam com marcas e empresas pelo WhatsApp para tirar dúvidas, receber suporte técnico e promoções, comprar produtos e serviços, etc.
- 74% fazem parte de grupos de família, 60% de grupos de trabalho e 15% de grupos de política.
- 62% realizam mais ligações pelo WhatsApp do que pelo plano de minutos da operadora telefônica.
- 7% já cadastrou um cartão de débito no WhatsApp para poder enviar e receber dinheiro.
O relatório Reuters Institute Digital News Report 20212, aponta que, no Brasil:
- 82% estão preocupados com a desinformação e com notícias falsas, liderando essa estatística dentre os países pesquisados.
- O WhatsApp é a rede social que mais preocupa os brasileiros no que se refere à desinformação sobre a Covid-19.
- 47% compartilham notícias via e-mail, redes sociais e mensagens.
O Brasil é o primeiro país do mundo com maior tempo de uso do smartphone: em média, o brasileiro fica 5,4 horas por dia no celular!
Relatório App Annie 20223
Tão grave quanto o tempo de permanência é o que está sendo visto nessas telas.
Monitorando o WhatsApp e as redes sociais em minhas pesquisas: os horrores que não têm como “desver”
O Laboratório de Computação Social (Locus) do Departamento de Ciência da Computação (DCC/UFMG) desenvolveu, em 2018, o Monitor de WhatsApp4, em um projeto coordenado pelo professor Fabrício Benevenuto. Está em andamento, agora, o Monitor de Telegram.
Essa ferramenta pioneira, desenvolvida por colegas da UFMG, é simplesmente fantástica. O monitor permite o ranqueamento diário das imagens, vídeos, mensagens, links e áudios mais compartilhados nos grupos públicos de política do WhatsApp no Brasil, sendo capaz de monitorar centenas ou até milhares de grupos ao mesmo tempo.
O monitor foi uma revolução para todos nós da área da informação e cibercultura, pois passávamos a poder gerar estatísticas sobre o conteúdo circulante no WhatsApp a partir de um grande banco de dados.
O LavMUSEU, o nosso laboratório virtual na Escola de Ciência da Informação da UFMG, utilizou o Monitor de WhatsApp para levantar os conteúdos associados aos museus compartilhados durante as eleições presidenciais brasileiras de 2018, em um projeto sob minha coordenação5. E o resultado é que fiquei perplexa com tudo que vi nas redes sociais durante esta pesquisa.
Montagens pornográficas pesadas e mentirosas, associadas a diversos políticos. Uso altamente distorcido de textos e princípios religiosos. Toda espécie de discurso de ódio. Imagens de cadáveres humanos abertos com os órgãos à mostra e muita violência.
Estarreceu-me, em especial, vídeos de (supostos) ladrões, pegos em flagrante pela população, sendo literalmente linchados diante das câmeras dos celulares. Estes vídeos vinham acompanhados quase sempre de muitos elogios, porque na lógica deturpada dessas pessoas “bandido bom é bandido morto”. É o ápice da barbárie.
Isto é o que dá para descrever aqui, porque tem coisas que vi nas redes sociais que prefiro realmente não contar. Se pudesse, apertaria o botão de “desver”.
O clamor internacional dos pesquisadores brasileiros por mudanças no WhatsApp
Tendo em vista o altíssimo grau de desinformação associada ao WhatsApp, evidenciada também pela ferramenta de monitoramento do Locus, especialistas brasileiros, dentre eles o professor Benevenuto, publicaram um artigo no The New York Times6.
Eles intencionavam sensibilizar a empresa para que promovesse alterações em alguns dos seus parâmetros e configurações de compartilhamentos e grupos. A intenção era reduzir, assim, o potencial de disseminação da ferramenta e, consequentemente, os seus danos ao nosso processo eleitoral em curso.
Algumas mudanças foram de fato implementadas pelo WhatsApp, mas somente após o término daquelas eleições, quando já era tarde demais.
As investigações atuais têm levantado que os disparos em massa de notícias falsas no WhatsApp podem ter sido patrocinados por poderosos empresários e políticos brasileiros. E trata-se de um problema global.
Em janeiro de 2021, assistirmos, embasbacados, cenas surreais de insurgência contra a democracia no Capitólio dos EUA. As fake news e as redes sociais podem ter contribuído para isto, como mostram os documentos internos vazados do Facebook.7
No Brasil, um alto grau de notícias falsas também estão circulando por aí, a despeito de todo o trabalho que a imprensa séria e a universidade têm feito na tentativa de combater as fake news e as teorias conspiratórias.
Ameaças: os perigos de se pesquisar o WhatsApp
Está em curso a chamada fuga de cérebros, com vários cientistas deixando o país por conta de ameaças à sua segurança e privacidade.
O podcast Cientistas na Linha de Frente, da Agência Pública, apresenta diversas histórias de lideranças e pesquisadores brasileiros que atuam em temas nevrálgicos para a sociedade, bem como as consequências disso em suas vidas pessoais e profissionais. Recomendo bastante que ouçam este podcast, para compreenderem como o conhecimento científico está sob forte ataque no Brasil.
O professor Benevenuto é um dos entrevistados do episódio 6, que também conta a história do pesquisador brasileiro de grupos de política no WhatsApp, o cientista da computação David Nemer8, professor da Universidade de Virgínia – EUA. Como os demais, David vive sob a égide do medo, após receber ameaças por e-mail contendo uma foto sua caminhando nas ruas, quando esteve no Brasil.
Após dar uma entrevista para a imprensa brasileira sobre as redes sociais, David também recebeu ameaças pelo Instagram. A mensagem continha fotos de armas e menções sobre a sua família no Brasil e sobre a facilidade de se comprar fuzis nos Estados Unidos, onde o pesquisador atualmente reside.
O instituto de pesquisa britânico Latin America Bureau criou um grupo de apoio para acadêmicos ameaçados no Brasil, que já tem mais de 300 membros.
Cientistas na Linha de Frente – Episódio 6 – Cientistas da computação e fake news
Telegram: novo palco mundial para guerras políticas cibernéticas e disseminação da desinformação
Na semana em que o WhatsApp parou, o Telegram ganhou 70 milhões de novos usuários. Com a possibilidade de se mandar mensagens indiscriminadamente, encontrar grupos temáticos públicos através de buscas e formar grupos de centenas de milhares de pessoas, este app tem o potencial de causar ainda mais estragos do que o WhatsApp.
O fato é que em apenas 3 anos, o Telegram cresceu sua presença nos celulares dos brasileiros de 15% para os atuais 53%. 18% dos usuários participam de grupos de política no Telegram e 8% de grupos pagos.1 Diariamente, bilhões de mensagens ao redor do mundo são enviadas neste app, segundo seu fundador. E esses números apresentam tendência de crescimento.
Vai ser difícil “combinar com os russos” de restringir suas configurações, já que eles alegam se tratar de uma defesa da “liberdade de expressão”. O que temos observado, entretanto, é o uso do Telegram para o cometimento de crimes e práticas terroristas9, funcionando ainda como uma verdadeira fábrica de disseminação em massa de fake news.
É muita ingenuidade transferir a solução desses problemas associados à Internet para o âmbito da decisão pessoal ou da benevolência das empresas de tecnologia. A Web não pode ser uma “terra sem lei”.
A regulamentação da comunicação on-line é um tema complexo e fica para outros posts. O resumo da ópera é: tempos tenebrosos nos espreitam se nada for feito.
Danos do WhatsApp à nossa saúde mental e à democracia
Confesso que a pesquisa sobre fake news nas redes sociais teve impactos na minha vida pessoal. Comecei a ter dificuldades para dormir, ficando cada vez mais ensimesmada e melancólica. Para ser sincera, comecei a duvidar também da solidez do processo civilizatório da humanidade.
Beto disse-me que seu conselho, não como esposo, mas como médico, era de que eu repensasse esta questão naquele momento, pois de fato não estava me fazendo bem. Imagina quem fica nas redes sociais o dia inteiro, em especial participando de grupos extremistas? E me preocupava também a saúde mental da minha equipe.
Por tudo isto, suspendi temporariamente a nossa frente de investigação sobre fake news de museus. Esta suspensão permanece até hoje.
A pesquisa me fez entender muita coisa, inclusive porque tanta gente possui ideias tão equivocadas e discurso tão reacionário. Se são, diariamente, bombardeadas por tanto lixo, não é de se espantar que tenham se tornado agressivas, amargas e desinformadas.
Essas “bolhas” no zap amplificam, ainda, esse processo de radicalização, já que unem pessoas com tendências e pensamentos parecidos, que vão se solidificando mais e mais pelo viés de confirmação.
Depois desse projeto compreendi a origem de algumas opiniões absurdas que pessoas públicas, amigos e parentes emitiam. A polarização que vivemos, então, fez muito mais sentido para mim. O que, obviamente, ampliou minhas preocupações com os rumos do nosso país e do mundo.
Sobrecarga mental e emocional causada pelo WhatsApp
Mesmo para quem vive numa “bolha” cultural e intelectual como eu, onde o WhatsApp pode ser fonte também de coisas inteligentes, notava em mim uma forte sobrecarga mental e emocional associada a essa ferramenta, provocada principalmente por:
- Demandas constantes por informações ou solicitações profissionais. O trabalho e os pedidos de favores me alcançavam a todo momento, 24 horas, 7 dias por semana.
- Propagandas constantes de produtos, serviços, eventos, exposições. Alguns eram até interessantes e adequados ao meu perfil, mas tudo isso gera um estímulo ao consumismo. Não tem como comprar tudo que gostamos ou participar de todos os eventos interessantes de uma metrópole como Belo Horizonte.
- Quando não tinha tempo de acompanhar os diálogos e ler todas as mensagens, o FOMO (Fear of Missing Out) tomava conta, aquela sensação de não se estar em dia com todas as demandas e novidades em curso.
- Enxurrada absurda de notícias, imagens e links. Até na minha bolha as fake news também eventualmente circulavam. Era impossível ler aquilo tudo e às vezes eu passava horas consumindo várias notícias que versavam sobre o mesmo tema. Isto me causava exaustão mental, ansiedade e dificuldade de concentração, além de prejudicar e tomar o tempo de outras formas de leitura mais produtivas, como a de livros.
- Pressão social para responder a tudo, nem que fosse com uma carinha feliz, inclusive aquele cartãozinho de bom-dia que a tia da irmã do primo do seu vizinho te mandou, desejando uma ótima manhã. A gente quer ser educado e no Brasil não responder às coisas não pega bem. Isto faz com que os conteúdos no WhatsApp sejam muito mais vistos que nas demais redes sociais, aliás. Não só isso, tendemos a nos engajar mais nas conversas e confiar mais no que chega via zap, porque foi repassado geralmente por conhecidos.
- Conversas paralelas que me deixavam tensa: em que medida a pessoa não está querendo extrair de mim uma posição contrária à opinião geral no grupo para printar e repassar para outras pessoas inbox?
- Desentendimentos nas trocas de mensagens, porque a discussão tomou curso sem as demais informações atenuantes que os contatos presenciais proporcionam (gestual, tom de voz, olho no olho, etc.).
- Ansiedade causada pela possibilidade de receber, a qualquer momento, uma notícia extremamente ruim, um artigo de jornal irritante ou, como já dito, algum pedido de favor.
Por fim, sou uma pessoa introspectiva. Estar acessível o tempo todo me causava uma sensação de vulnerabilidade e de pouco controle do meu tempo e da minha própria vida. Como se eu fosse colocada permanentemente numa vitrine. Um sentimento difuso e constante de insegurança e de exposição excessiva, ainda que eu estivesse simplesmente sozinha, tomando um chá e lendo um livro no aconchego do meu escritório.
Por tudo isso, providências precisavam ser tomadas.
Estatísticas estarrecedoras do meu uso pessoal de WhatsApp
Já no começo de 2019, decidi que deveria promover mudanças no meu uso dos aplicativos de mensagens. Fiz uma limpa geral nos meus grupos e conversas, saí de tudo que podia e coloquei o seguinte aviso no meu perfil, abaixo da minha foto: “Consulto uma vez por dia após o almoço”.
Não foi o suficiente. Ao analisar o meu uso de WhatsApp em junho de 2019, constatei que:
- Acessava o app todos os dias, invariavelmente. Quase sempre não conseguia cumprir a meta de só acessar após o almoço.
- Gastava cerca de 8 horas semanais no aplicativo, segundo o meu app de monitoramento de uso do celular. Antes da “limpa” e da mudança de postura do início do ano era bem mais do que isso.
- Tinha cerca de 350 conversas diferentes no WhatsApp.
- Dessas, aproximadamente 70 conversas eram relevantes, em andamento e relativamente frequentes.
- Mais de 20 conversas eram intensas, sendo que algumas envolviam grupos grandes, com várias interações minhas.
Eu tentei fazer um uso consciente do zap, mas não consegui. É diferente do e-mail, no qual você pode responder um hoje e depois continuar amanhã, mesmo que a pessoa te mande outro logo em seguida. O WhatsApp é uma conversa instantânea, é complicado simplesmente “sumir” no meio da conversa e só voltar um dia depois. Até porque o app, intencionalmente, revela para todos que você está on-line.
Além disso, confesso que gostava de discutir no WhatsApp. Era daquelas usuárias que comenta tudo e que produz “textão”. (O leitor já percebeu que gosto de textos longos.) Receber as mensagens e apertar o “enviar” era uma injeção de adrenalina no corpo.
Ou seja, estamos falando não apenas de muito tempo, mas também de um fluxo muito intenso de interações, o que estava impactando o meu emocional e a minha qualidade de vida.
Por tudo isso, resolvi dar um basta e sair do WhatsApp e, em seguida, do Telegram. Deste último sempre fiz um uso muito reduzido, mas resolvi sair também, para que ele não virasse o meu novo WhatsApp.
Para além dos prejuízos pessoais, eu não queria ser mais uma a contribuir com aplicativos que estão causando tantos problemas para as pessoas, para a sociedade e para o mundo.
Motivos para deletar o WhatsApp
Comuniquei a minha saída para todos os meus contatos com um último “textão”, pontuando os principais problemas desta ferramenta, a saber:
Riscos à nossa privacidade
O WhatsApp possui um grave problema de privacidade digital, já que a empresa não pode ver as nossas mensagens, mas contabiliza diversos metadados a nosso respeito:
- Nome.
- Foto de perfil.
- Número de telefone.
- Dados do telefone (marca, modelo).
- Operadora.
- Número de IP.
- Localização da conexão.
- Transações financeiras feitas via app.
- Números dos nossos contatos.
- Atualizações de status.
- Tempo de uso e atividades no app.
O WhatsApp não pode ver o que você escreve, porque é tudo criptografado, mas pode saber para quem, quando e onde o faz. Estas informações todas estão hoje compartilhadas e integradas com as coletadas pelo Facebook e pelo Instagram, numa estratégia de amplificar o uso do WhatsApp para fins comerciais e de negócios.
Cabe acrescentar aqui que desde 2016, a política de privacidade do WhatsApp viola o Código de Defesa do Consumidor, o Marco Civil da Internet e, desde 2020, também a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).10
Vazamentos de dados pessoais
Perigo de vazamentos e, consequentemente, de exposição não intencional da nossa vida privada. Apesar da criptografia no transporte das mensagens, elas ainda estão fisicamente nos equipamentos, que podem ser invadidos, hackeados ou roubados.
O grau de exposição da nossa vida quando participamos deste tipo de rede é muito grande. Especialmente porque mensagens e áudios são feitos no impulso, ao contrário, por exemplo, deste texto de blog, que passou por um tempo de maturação e por outros leitores antes de ir ao ar, dando-me a chance de refletir e esfriar a cabeça antes de publicar.
Ausência de ócio criativo e silêncio interior
Com tantas mensagens e distrações digitais, sentia falta de momentos de ócio criativo11 e silêncio interior, importantes para o nosso amadurecimento, reflexão sobre a vida e crescimento pessoal.
O celular estava consumindo meu tempo livre, que poderia ser muito melhor investido em outras atividades enriquecedoras para o corpo e para a alma.
#PartiuVidaReal
Encerrei essa mensagem de despedida do WhatsApp com a hashtag #PartiuVidaReal e terminei esse “relacionamento abusivo” sem nunca mais olhar para trás. Foi uma das melhores coisas que eu fiz.
Na verdade, o meu único arrependimento não é ter saído, mas ter um dia entrado!
A reação das pessoas à minha saída do WhatsApp
Após encaminhar a mensagem avisando que deletaria em breve o aplicativo, muitos me disseram que achavam a minha decisão extremamente corajosa, mas que infelizmente não conseguiriam fazer o mesmo. Isso nos suscita uma reflexão importante.
O fato das pessoas desejarem racionalmente sua saída, mas não se sentirem capazes de concretizá-la, mostra como essas tecnologias são viciantes e, ao mesmo tempo, danosas. O WhatsApp é o ópio de muita gente, como na animação Nugget. E é só uma das redes sociais, imagina quem está em diversas delas!
O uso deste mensageiro é tão difundido, que é extremamente comum as pessoas me pedirem para mandar algo pelo zap sem nem confirmarem antes se eu o tenho instalado. Isso é fato consumado na cabeça delas. “Todo mundo tem!” E tem mesmo, como vimos pelas estatísticas no começo deste texto.
Respondo, então: “Desculpe, não tenho WhatsApp. Podemos fazer de uma outra forma?” E invariavelmente provoco um silêncio mortal no meu interlocutor. As pessoas ficam sem reação, incrédulas, além de não terem um plano B para me oferecer. Aí eu digo que posso mandar um SMS, um e-mail ou então ligar diretamente para o setor responsável, o que a pessoa preferir.
Certa vez estava numa visita técnica em um museu, durante um congresso da área. A guia comentou algo sobre recebermos mais informações por zap. Ao constatarem que eu era a única do grupo que não possuía o app, de repente, virei a peça mais exótica em exposição naquele museu. E então surgiram perguntas desse teor:
Como seus colegas de trabalho e seus amigos te acham? Você tem vida social? Você não se sente isolada do mundo?
Talvez muitos de vocês estejam se fazendo essas mesmas perguntas, então, vamos lá.
Como eu me comunico com o mundo?
Existem inúmeras maneiras de se comunicar com as pessoas além do WhatsApp e Telegram. Citarei apenas algumas aqui, para provar como a vida segue normal.
O bom e velho SMS – mensagem de texto da operadora de celular – ainda existe, a maioria das pessoas se comunicam comigo por aí. Para quem tem iPhone como eu, as mensagens são ainda “turbinadas” com os recursos do iMessage.
Algumas curiosidades da pesquisa do projeto Panorama sobre o SMS, em 20211:
- 48% dos brasileiros recebem mensagens SMS todos os dias ou quase diariamente.
- Já para o envio, 43% das pessoas quase nunca mandam SMS, 23% nunca mandam e 18% mandam algumas vezes por mês.
Esses dados se refletem na minha experiência. O número de mensagens que recebo no SMS/iMessage é drasticamente menor em comparação ao que era no meu WhatsApp. Posso ficar uma semana inteira ou mais sem receber um único SMS, com exceção dos spams. Vou silenciando ou bloqueando essas empresas de marketing à medida que recebo suas propagandas inconvenientes.
Assim, o contato comigo via SMS acaba sendo só quando necessário mesmo, de forma bem mais objetiva. No SMS não tem grupos, cartão de bom dia e nem vídeo de gatinho fofo. Costumo responder às mensagens só no período da tarde.
Além das mensagens de texto, meus amigos e colegas de trabalho podem me acessar via videoconferência ou me escrever um e-mail, que é algo mais oficial do que mensagens e eu posso salvar.
Respondo e-mails somente uma vez por dia, em geral, por volta das 16:00h. Deste modo, tenho tempo de resolver pendências urgentes vindas nele e absorver emocionalmente notícias boas e ruins, para ter uma noite tranquila com minha família. Com pouquíssimas exceções, evito “vai e vem” no e-mail, ou seja, eu respondo cada pessoa uma única vez por dia, justamente para não transformar o e-mail num zap ainda mais ineficiente.
Meus alunos me mandam mensagens prioritariamente via fóruns e inbox do Moodle, o ambiente virtual de aprendizagem da UFMG, que costumo acessar no mesmo horário do e-mail. Acho excelente, porque é um canal oficial e fica tudo registrado.
No Messenger do meu perfil no Facebook, faço parte do grupo Arquitetos e Amigos, formado pelos meus colegas mais próximos de faculdade, sendo que alguns deles estão espalhados pelo Brasil. Tenho muitas saudades das pessoas e dos outros grupos que perdi saindo do zap, mas faz parte da vida, não se pode ter tudo. Este grupo, pelo menos, tem uma opção paralela. Algumas pessoas isoladas também me acessam pelo Messenger.
O mais importante: não tenho o app do Messenger instalado no celular e acesso eventualmente no computador mesmo, sem pressão ou urgência para fazê-lo. Portanto, eu não trato o Messenger como tratava o WhatsApp, é um uso muito mais restrito e esporádico.
Se você precisa muito de um app mensageiro, recomendo o Signal12, que é o melhor e o que mais protege a sua privacidade. Trata-se de um projeto open source sem fins lucrativos, por isso mesmo, o app é adotado por ativistas ao redor de todo o mundo.
O Signal é utilizado por muito menos gente e você pode bloquear todo mundo que não seja imprescindível. Foi o que eu fiz. Tenho um grupo com meu esposo, irmã e pai no Signal. Precisávamos necessariamente de um grupo para resolvemos principalmente questões de logística de passeios dos avós com as crianças. Minha mãe é offline, acompanha os combinados pelo meu pai. Meus sogros não moram em Belo Horizonte e me comunico superbem com eles pelo SMS.
Os demais contatos no Signal bloqueio praticamente todos. Abro pouquíssimas exceções, a exemplo de jornalistas, professores ou parceiros de pesquisa estrangeiros, já que SMS no exterior é complicado.
É muito pouca gente que permito que me acesse no Signal, portanto, não se ofenda se eu te bloquear por lá, não é pessoal, é uma questão de organização da comunicação mesmo. Mas meu SMS é todo seu. E ligação telefônica ainda existe.
Aliás, reduzir meus contatos digitais e aumentar os presenciais com aqueles que eu amo é uma das minhas atuais prioridades. Melhor do que chat no celular é bater um papo ao vivo em algum café de museu.
Por fim, toda a comunicação entre equipes dos meus projetos, assim como a minha organização pessoal e profissional, são feitas em softwares de comunicação e gestão especialmente projetados para isso, a exemplo do Todoist13 e de plataformas e redes sociais particulares (intranets), desenvolvidas por mim com WordPress e seus plugins.
Portanto, sim, eu trabalho e tenho vida social normal, gente! O mundo não acabou depois que saí do WhatsApp. Na realidade, ele só ficou melhor, de verdade.
E quando não tem jeito mesmo?
E quando o WhatsApp e o Telegram são a única opção? Aí é só baixar o app, usar e deletar depois. Já aconteceu umas duas ou três vezes apenas, nesses últimos anos. Em cinco minutinhos você instala, faz o que precisa ser feito, depois apaga o app. Outra opção é pedir alguém que esteja no grupo para baixar ou postar algo para você.
Por exemplo, certa vez participei de um curso sobre mercado editorial e livros. O professor do curso disponibilizou um grupo no Telegram para compartilhamento de material entre os alunos. No final do curso, entrei no grupo, baixei todo o conteúdo que me interessava e depois saí. Simples assim.
Outro exemplo: seus amigos estão combinando um encontro no WhatsApp? Alguém posta lá os horários que você tem disponível e depois te dá um retorno da resolução final.
Meu esposo decidiu que não abrirá mão do WhatsApp, por causa dos seus residentes e pacientes. Então, ele está no grupo da nossa igreja. De vez em quando posto ali meus textos do blog e assino “Ana, esposa do dono do zap”, o que acabou virando motivo de troça. Sou casada com o “ZuckerBeto”. É um grupo divertido. Ele também está no grupo de mães da escola dos meninos, mas eu quase sempre ligo para a escola mesmo quando tenho alguma dúvida.
Enfim, no meu caso, dá para viver sem WhatsApp e Telegram tranquilamente.
Cabe ressaltar que tenho plena consciência de que ter autonomia para deletar o WhatsApp e o Telegram me coloca numa posição de privilégio, quando esta opção deveria ser um direito de todos, no meu entendimento.
Algumas pessoas efetivamente utilizam estes aplicativos para ganharem o seu sustento e não possuem a liberdade que tenho de optar pelo delete. Seja porque o chefe obriga, seja porque o seu negócio depende dessas ferramentas.
Sinceramente, eu aconselharia tentar convencer a equipe a se comunicar de modo mais profissional. Se não acatarem e este estilo de trabalho estiver causando danos à sua saúde mental, recomendo até mudar de ramo ou de emprego, se for possível. Mensageiros não são eficientes para se conduzir a gestão da comunicação em equipes. E isso, com certeza, será motivo de bastante estresse laboral.
Se não tiver outro jeito mesmo, minha sugestão é que você desative as notificações de tudo que puder e que tenha dois aparelhos de celulares: um para a vida profissional, que você acessa no horário de trabalho, e outro para sua vida pessoal.
Na verdade, eu já cheguei a ter dois celulares, mas o equipamento secundário estragou e acabei não consertando. Funciona muito bem e é uma ótima opção para separar as esferas da vida.
O lado negativo da história
Sim, pode ser que você não tenha mais contato com pessoas que você gostava demais, perca algum vernissage bacana, porque não estava no grupo de curadores do museu, alguma festa que alguém esqueceu de te avisar ou mesmo algum contato profissional interessante. Contudo, não notei, nestes anos, nenhum prejuízo grave ou irreversível, tanto na minha vida profissional quanto pessoal.
Agora, isso de não ter WhatsApp e nem Telegram não angaria a simpatia das pessoas, preciso ser totalmente honesta com o leitor.
Da parte de alguns, eu sinto até uma certa “inveja santa” desta minha decisão. Eles não querem o meu mal, mas ficam chateados por não conseguirem realizar o mesmo e deletar os apps. De outros, sinto contrariedade mesmo, porque parece que estou dificultando as coisas.
Tem gente que vai te achar blasé ou esnobe, como se o seu tempo fosse mais importante do que o deles. Na verdade, quem está desvalorizando o próprio tempo deles não sou eu, mas eles mesmos.
Agradar a todo mundo não deve ser a nossa prioridade e sim ter uma vida plena, saudável e feliz, com tempo livre para aquilo e aqueles que realmente importam.
E foi justamente isso que ganhei saindo do WhatsApp, bem como otimizando todas as minhas outras formas de comunicação digital. Falaremos bastante sobre isto neste blog.
Dicas importantes para pressionar o botão de “deletar”
Se o leitor estiver querendo quebrar as algemas do WhatsApp e do Telegram, dois conselhos:
Não saia à francesa
Se você estiver realmente decidido a sair de vez, mande uma mensagem contundente para todos, aquele “textão” de despedida. Isso é importante não só para informá-los sobre as razões da sua saída e sobre os outros possíveis canais de comunicação, mas para criar um alto custo social em torno dessa decisão.
Afinal de contas, depois de uma saída catártica e duramente conquistada, voltar para o zap alguns meses depois pode ser um pouco constrangedor. Assim, seu brio vai te dar uma ajudinha a ficar firme no propósito. No mínimo, se você optar por voltar mesmo, não será uma decisão de impulso. Neste caso, escreva uma nova mensagem para seus contatos principais, explicitando as razões do retorno.
Eu não tive esse problema, vou confessar que para mim foi uma escolha alegre e, provavelmente, sem volta, mas muita gente é acometida pela tentação de retornar.
Não foque no lado emocional: pese os prós e contras
O WhatsApp tem alguns benefícios importantes, como manter você conectado com as pessoas que você gosta, fortalecendo estes laços com pequenos contatos diários. O app também pode reduzir a sensação de solidão, como apontam algumas pesquisas.14
Pelo WhatsApp, meus grupos de parentes e amigos viveram verdadeiras aventuras comigo, como quando três aviões nos quais embarquei numa viagem internacional estragaram, seguidamente, forçando-nos a mudar de aeronave. Não estou brincando, isso aconteceu três vezes seguidas.
Na primeira aeronave, chegamos a ir até à cabeceira da pista para decolar e voltamos para trás. Em duas dessas que deram pane, os testes para tentar arrumar o motor foram feitos conosco dentro do avião. Fui teletransportada para o filme da minha infância Aperte os cintos o piloto sumiu, no exato momento em que a comissária comunica que acabou o café.
A cada acelerada do motor que os mecânicos efetuavam, os passageiros se afundavam silentes na cadeira, outros gritavam e alguns até choravam. Teve passageiro da primeira classe que pegou sua bagagem de mão e simplesmente desceu da aeronave. Um caos. Era apavorante e engraçado ao mesmo tempo.
E tudo foi testemunhado e compartilhado com minha família e com amigos, em tempo real, via WhatsApp. Eu estava em outro hemisfério e sozinha, porque foi uma viagem de trabalho, mas não me sentia só naquele avião. A “presença” dos amigos comigo ali e as brincadeiras com a situação fizeram toda a diferença naquele momento. E preciso creditar este feito ao WhatsApp.
Enfim, por todas essas memórias, apertar o botão de “sair” em alguns grupos partiu meu coração. E é isto que faz muita gente permanecer na ferramenta: simplesmente ela é prática e um excelente entretenimento, não há como negar.
Contudo, precisamos aqui analisar corretamente os prós e contras. Neste caso, eu sugiro colocar no papel uma lista dos pontos positivos e dos pontos negativos, tornando mais concreto, deste modo, os motivos pelos quais você deveria permanecer (ou não) utilizando estes aplicativos de mensagens.
Você também precisa realizar uma autoavaliação sincera e verificar se consegue, de fato, fazer um uso racional do zap.
Se ao final deste processo você, como eu, perceber que estes apps estão gerando ansiedade e ocupando, digitalmente, um tempo que poderia ser melhor investido em relacionamentos presenciais mais significativos (inclusive com seus amigos do WhatsApp), não pense demais, simplesmente delete!
Ainda não ficou convencido? Então deixa eu te contar um pouco sobre minha vida depois dessa mudança.
O que melhorou na minha vida após sair do WhatsApp e do Telegram?
Se tivesse que resumir em uma palavra a sensação é de alívio. Parece que tirei um peso enorme das minhas costas. Eu saí do meio de um turbilhão barulhento para um oásis mental.
Foi como se eu estivesse num congestionamento às seis horas da tarde em São Paulo e fosse teletransportada para o meio do Ibirapuera. Ou para ficar aqui no meu quintal, fosse do Obelisco da Praça Sete na avenida Afonso Pena para o mirante do Parque das Mangabeiras!
Outras mudanças importantes também aconteceram nos últimos anos, mudanças essas que não se devem somente à saída dos aplicativos de mensagens, mas fazem parte desse contexto de várias iniciativas em minha busca por mais qualidade de vida:
Rotina de prática de exercícios físicos
Finalmente consegui estabelecer na minha vida uma rotina de prática de exercícios físicos. Caminho nas ruas e praças da minha cidade cerca de cinco vezes na semana por, pelo menos, uma hora. Agora estou retornando também para a academia.
Curadoria e redução do consumo de notícias
Sem aquela enxurrada de links e artigos diariamente, a minha leitura de notícias é muito mais programada e intencional. Estou, ao mesmo tempo, mais bem informada e menos ansiosa. Passo menos raiva também.
Aumento da capacidade de concentração
A minha capacidade de foco e concentração melhorou exponencialmente, já que estes aplicativos de mensagens e redes sociais acabam fragmentando nossa atenção. Tudo isso é muito importante, ainda mais para mim, que obtenho o meu sustento e a minha realização por meio do trabalho intelectual. Portanto, houve uma ampliação da minha produtividade e da minha qualidade de vida.
Entrando mais em fluxo
Estou entrando mais em fluxo ao fazer as coisas. Fluxo é aquela sensação incrível de focar totalmente no aqui e agora, mergulhando profundamente no que está em execução. É o estado que me encontro neste momento, escrevendo este post ou trabalhando nos meus projetos de pesquisa. Quando entro em fluxo, não sinto vontade de comer, nem me lembro dos problemas e me esqueço até de pegar os filhos na escola. (Fique tranquilo, caros leitores, coloquei um alarme no celular para isso!)
Melhora da saúde mental
Logo que saí do WhatsApp percebi uma melhoria significativa da minha saúde mental e do meu nível de energia emocional para enfrentar os desafios da vida, que já são suficientemente estressantes, ainda mais depois de tudo que vivemos e ainda vamos viver no mundo pós-pandemia, o tal do “novo normal”.
A melhor mudança de todas
Marcel Proust, em sua crônica Dias de Leitura 15 no jornal Le Figaro, conta-nos que havia tantos doentes e epidemias que os livros encontravam os leitores. Contudo, já naqueles tempos, a leitura se deparava com um forte concorrente…
“Só lemos em último caso. Para começar, telefonamos muito. (…) somos crianças que brincam com as forças sagradas sem estremecer diante do seu mistério (…) não achando ainda suficiente rápida em suas mudanças a admirável magia em que alguns minutos às vezes se passam de fato antes que surja perto de nós, invisível, mas presente, a amiga com quem queríamos falar, e que, permanecendo à sua mesa, na cidade distante onde mora, sob um céu diferente do nosso, com um tempo que não é o que faz aqui, em meio a circunstâncias e preocupações que ignoramos e que ela vai nos dizer, encontra-se de súbito transportada a centenas de léguas (ela e todo o ambiente em que está mergulhada), em nosso ouvido, no momento em que nosso capricho ordenou. (…) Para que esse milagre se realize, basta apenas aproximar nossos lábios da prancheta mágica e chamar – algumas vezes um pouco longamente, admito-o – as Virgens Vigilantes, cuja voz ouvimos todo o dia sem jamais conhecer-lhes o rosto. (…) Eu dizia que, antes de nos decidirmos a ler, procuramos ainda conversar, telefonar, discamos números e mais números.” ( Marcel Proust )
Cem anos se passaram e esse concorrente da leitura hoje dispensa “virgens” intermediárias e nos conecta não a uma, mas a várias pessoas ao mesmo tempo, instantaneamente, com texto, imagem, voz e vídeo. E prosseguimos brincando com essas forças ocultas, como crianças que passeiam absortas em meio a tantos perigos.
É preciso desligar o telefone. Foi só quando abdiquei dos aplicativos de mensagens e fiz um uso otimizado das redes sociais que meus “dias de leitura” voltaram e retomei esse importante hábito.
Descobri, ainda, excelentes podcasts, que me proporcionam tão boa companhia nas tarefas de casa ou nos exercícios monótonos da academia. Com eles, ganhei mentores e fiz novos amigos, ainda que seja um relacionamento quase sempre de mão única.
Passei também a “ler com os ouvidos”. Entraram em minha vida os audiolivros, que me levaram a “leituras” que antes eu não cogitaria fazer, simplesmente porque não me pareciam prioridades. E agora, com meus fones encantados pela fada do “dente azul” (Bluetooth), posso ter também livros como companhia nas minhas caminhadas diárias por sob as árvores floridas desse Belo Horizonte.
O argumento mais convincente para você deixar de vez o WhatsApp e o Telegram
O WhatsApp foi baixado 5,6 bilhões de vezes ao redor do mundo, desde 2014.
BBC News Brasil10
Estes números mostram a força desse aplicativo em nossa cultura digital. De fato, o WhatsApp e o Telegram têm suas vantagens, não há como negar. Porém, a lista de benefícios de se abdicar destes apps de mensagens também é longa e eu poderia ficar descrevendo aqui inúmeras outras mudanças positivas que observei ao deletá-los.
Contudo, o argumento mais convincente quem pode dar é a experiência.
Se o leitor ainda está resistente, diga para si mesmo que é apenas um experimento16 e que sairá por somente um mês. Talvez seja mais fácil dar um passo adiante pensando que se trata apenas de um período determinado. Se depois deste mês você decidir permanecer no WhatsApp, aposto que, pelo menos, o seu uso será mais sábio e consciente.
Após um tempo de liberdade, há ainda grandes chances de você se sentir como se tivesse nascido de novo. Foi o que aconteceu comigo. Neste caso, então, te espero no outro lado do rio… no incrível e produtivo mundo paralelo dos 1% de brasileiros que se desconectaram do WhatsApp!
Notas
Última atualização do post: Janeiro/2022.
1 – Pesquisa Mensageria no Brasil 2021.
A pesquisa integra o projeto Panorama, uma parceria entre o portal de notícias Mobile Time e a empresa Opinion Box. Foi realizada través de uma plataforma on-line, respeitando as proporções e amostragens necessárias para obtenção da margem de erro de 2,2 pontos percentuais e grau de confiança de 95%.
Relatório Mensageria no Brasil 2021 (pdf)
2 – Reuters Institute Digital News Report 2021.
O relatório sobre notícias digitais, publicado pelo Reuters Institute e pela Universidade de Oxford, divulga uma imensa pesquisa realizada em diversos países ao redor do mundo, por meio de questionários on-line. Em quatro países, incluindo o Brasil, também tiveram grupos focais.
Relatório Notícias Digitais Reuters e Oxford 2021 (pdf)
3 – App Annie.
O relatório State of Mobile 2022, publicado pela App Annie, empresa especializada em celulares e aplicativos, coloca o Brasil entre os países no topo em diversas estatísticas de consumo. Uma ressalva é que os dados disponibilizados para número de horas no celular por dia referem-se somente a celulares Android.
Relatório State of Mobile 2022 App Annie (pdf)
4 – Monitor de WhatsApp do Locus DCC/UFMG.
O Monitor do WhatsApp é acessado por uma plataforma on-line e gera o ranqueamento dos conteúdos mais compartilhados na data selecionada, separados por tipo (imagem, mensagem, link, etc.), fornecendo ainda dados sobre os grupos e número de usuários envolvidos. É possível, ainda, clicar na imagem e acessar os dados de busca referentes à mesma no Google.
Neste vídeo o professor Fabrício Benevenuto explica o projeto e algumas ferramentas do Locus.
5 – Pesquisa Museus e Fake News: Eleições de 2018.
O Locus (DCC/UFMG) permitiu parcerias com profissionais de checagem de fatos, além de outros grupos de pesquisa, cedendo gratuitamente acesso às suas aplicações, como o Monitor de WhatsApp.
O LavMUSEU, o nosso laboratório virtual na Escola de Ciência da Informação da UFMG, utilizou o Monitor de WhatsApp para levantar os conteúdos associados aos museus compartilhados durante as eleições presidenciais brasileiras de 2018. O tema chegou no trending topics em diversas redes sociais, inclusive no monitoramento de WhatsApp, especialmente após o incêndio no Museu Nacional.
No projeto, também, utilizamos o detector de bots do Twitter (ferramenta do Locus), publicações das principais agências de checagem de fatos, ferramentas de contagem de links compartilhados nas redes sociais e rankings de levantamentos de postagens no Facebook, estes últimos divulgados por pesquisadores da USP (Monitor do Debate Político no Meio Digital).
Este monitoramento foi feito no âmbito do projeto Museus e Fake News: Eleições de 2018, o qual coordenei na UFMG. Assim, por cerca de dois meses, foi monitorado diariamente o universo do que acontecia em centenas de grupos políticos do WhatsApp.
Segundo o Monitor de WhatsApp, foram compartilhadas 27 mensagens mencionando museus por 186 vezes em 15 dias do período monitorado (59 dias no total). Ou seja, em 25% dos dias da campanha eleitoral o tema museus esteve em pauta nos grupos captados pelo sistema, um quarto do tempo.
As mensagens giraram, em sua grande maioria, em torno do incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, que ocorreu na madrugada do dia 02 para 03 de setembro de 2018, portanto, dentro do período eleitoral. Outro tema recorrente nas mensagens era a Lei Rouanet. O levantamento também mostrou 14 imagens que estão ou podem estar associadas aos museus, compartilhadas no período.
Foram detectadas graves fake news e/ou distorções de contexto nestes compartilhamentos.
6 – Artigo no The New York Times.
Fake News is poisoning Brazilian politics. WhatsApp can stop it.
Se não for assinante do NYT, leia o artigo no Wayback Machine clicando aqui.
7 – Redes sociais e invasão no Capitólio dos EUA.
Facebook sabia do risco de invasão ao Capitólio (artigo do Nexo Jornal).
8 – Cientistas na Linha de Frente e pesquisador David Nemer.
Ouça o podcast Cientistas na Linha de Frente e conheça a história dos nossos pesquisadores, vários deles sob forte ameaça. O episódio 6 é dedicado aos cientistas da computação que estudam as fake news. Nele, o professor Fabrício Benevenuto, da UFMG, e o pesquisador brasileiro David Nemer, da University of Virginia, foram entrevistados.
9 – Telegram e suas controvérsias.
Pavel Durov of Telegram: WhatsApp Sucks (Vídeo da entrevista no canal TechCrunch).
Telegram: o sedutor ambiente do vale (quase) tudo (Artigo no Mobile Time).
10 – WhatsApp e a controvérsia sobre privacidade de dados.
Caso WhatsApp é prova de fogo para sistema de proteção de dados (artigo do Nexo Jornal).
Entenda o que muda nas regras do WhatsApp e por que isso é controverso (Vídeo BBC News Brasil).
11 – Ócio criativo e tempo livre.
Sobre este tema recomendo os livros Ócio Criativo, de Domenico de Masi, e O Elogio ao Ócio, de Bertrand Russel, e o texto Tempo Livre de Theodor W. Adorno.
12 – Signal.
O Signal é um aplicativo não comercial de protocolo open source. É o único cujo servidor também possui código aberto, ampliando ainda mais a transparência. O seu protocolo de criptografia foi adotado pelo Facebook, WhatsApp, Skype e Google, o que só reforça o seu prestígio.
O Signal é provavelmente o mais seguro de todos, por isto tem sido escolhido por ativistas e políticos ao redor do mundo.
Leia mais sobre o tema no relatório e ranking de empresas de tecnologia da Anistia Internacional. O aplicativo Signal não entrou nos rankings por possuir baixo número de usuários, mas é muito bem referenciado pelo relatório.
13 – Todoist.
Todoist é o principal software de gestão no qual faço o meu planejamento diário atualmente. O aplicativo permite organizar as listas de tarefas em projetos. Nele faço o gerenciamento tanto da minha vida profissional, quanto pessoal. O aplicativo possui um plano gratuito, com algumas limitações de recursos, mas que provavelmente atende à maioria dos usuários.
14 – WhatsApp e saúde mental.
WhatsApp pode fazer bem à saúde mental dos usuários, diz pesquisa (artigo Techtudo).
Uso excessivo e cobrança no WhatsApp geram ansiedade e hipervigilância (artigo Folha de SP).
15 – Dias de Leitura – Marcel Proust.
Salões de Paris, Marcel Proust, Editora Carambaia, 2018, p.87.
Importante: Como já pontuei na missão deste blog, os eventuais softwares, livros e produtos sugeridos aqui são escolhidos por mérito e/ou adequação, não havendo, portanto, qualquer tipo de recebimento de patrocínio ou benefícios para sua indicação.
Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga, Paulo Rocha, Heloísa Helena Rocha e todos os que me deram seu precioso feedback, obrigada pelos comentários e sugestões.
Imagens: Mesa de escritório e montagem tela WhatsApp (Adam121, Adobe Stock), Campus UFMG (Foca Lisboa, Flickr UFMG), Fake News (Wokandapix, Pixabay), Invasão do Capitólio dos EUA (Tyler Merbler, Wikipedia e Flickr), Pavel Durov (TechCrunch Flickr), Homem lendo livro (Ola Dapo, Pexels), Casal no celular (Roman Odintsov, Pexels), Print site Signal, Print site Todoist, TV montagem filme Airplane! (KoolShooters, Pexels), Parque das Mangabeiras (Ana Cecília Rocha Veiga), Moça lendo livro (Cottonbro, Pexels), Livro do O. Henry e caneca (Ana Cecília Rocha Veiga).