A matemática do progresso em produtividade: adotar um novo hábito e logo desistir

Categorias: Produtividade
Tags: hábito, produtividade, produtividade tropical

Quando estávamos em sala de aula, conversando sobre produtividade e rotinas, uma aluna da pós-graduação comentou ter muita dificuldade em incorporar novos hábitos de gestão.

Eu até começo, mas não consigo ficar firme no novo hábito. Não consigo manter o ritmo da mudança.” – disse a aluna.

Respondi que, geralmente, eu também não.

A conversa me lembrou um relato de um antropólogo, cujo livro me foge agora à memória. O pesquisador fez uma imersão numa aldeia amazônica e presenciou uma cena curiosa…

Um indígena empilhava gravetos para acender uma fogueira, mas seu filho pequeno, de uns dois aninhos, derrubou a pilha. Aparentemente tinha “Crianças indígenas não fazem manha”1 na biblioteca da tribo, pois o pai não bateu, não gritou, sequer ralhou com o pequeno. Apenas o levou para longe da pilha e recomeçou o seu trabalho.

A criança retornou, então, fazendo a mesma coisa, derrubando os gravetos de novo. E o indígena, calmamente, colocou-o ainda mais longe. Assim foi, sucessivamente algumas vezes, até que a pilha pode ser completada e o fogo acesso. O indiozinho estava determinado, mas o pai estava mais!

Hábitos de produtividade requerem muito esforço, paciência e, principalmente, tempo para serem verdadeiramente assimilados. Com frequência é preciso recomeçar inúmeras vezes. Só que a cada recomeço, o número de gravetos empilhados é um pouquinho maior.

O segredo é focar na velha máxima, entendendo como funciona a matemática do avanço: três passos para frente, dois para trás. O resultado final? Um passo adiante.

É importante notar que, embora o processo de mudança de hábito seja fácil de descrever, nem por isso ele é necessariamente fácil de realizar. É simples insinuar que tabagismo, alcoolismo, alimentação compulsiva ou outros padrões arraigados possam ser revertidos sem um esforço real. A mudança legítima exige esforço e autocompreensão dos anseios que impelem os comportamentos. Mudar qualquer hábito exige determinação.

Charles Duhigg – O Poder do Hábito2

Notas

Produtividade Tropical: este post integra uma nova série de textos, onde falarei sobre minha busca por produtividade com qualidade de vida, acrescentando outras perspectivas ao debate, como as influências culturais advindas da minha brasilidade. A proposta é dialogar com a literatura internacional sobre gestão e desenvolvimento pessoal, abordando os tópicos a partir de um ponto de vista de quem vive em um país ensolarado e tropical!

1 – Um trocadilho com o livro Crianças francesas não fazem manha, de Pamela Druckerman, editora Fontanar, 2013.

2 – Livro O Poder do Hábito: Por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios, Charles Duhigg, Editora Objetiva, 2012, p. 94, nota 3.

Agradecimentos: Alberto Nogueira Veiga, Paulo Rocha e todos os que me deram seu precioso feedback, obrigada pelos comentários e sugestões.

Imagem: Calculadora e réguas (DS stories, Pexels), Criança indígena Pataxó (Milton F. Athayde, Wikimedia), Amazônia (Marizilda Cruppe, Wikimedia) .

Foto de Ana sorrindo. Ana é uma mulher branca de meia-idade, com grandes olhos castanhos e cabelos ondulados com mechas louras, na altura dos ombros.

Ana Cecília é professora na UFMG, Brasil. Pesquisa gestão inclusiva e tecnologias da informação e comunicação para museus, bibliotecas e arquivos. Mora em Belo Horizonte com o esposo Alberto e seus dois filhos. Ama ler, desenhar, caminhar e viajar.

 

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